2006/03/30

And the hope still remains
Foi um jogo intenso e frenético. Movimentado e cheio de oportunidades. Aberto e despretensioso. Foi mesmo um jogo à medida de um palco como o da Luz. É curioso ver que, apesar de ter apenas três anos, o nosso recinto já se habituou a grandes ambientes. Esta época tem sido uma constante, muito por culpa das noites europeias a fazer lembrar o velho estádio. E terça-feira não foi excepção, de modo que não há muito a dizer quanto a isso. Confesso que o facto do adversário ser o Barcelona tira-me alguma vontade de escrever o que quer que seja. Assim de repente, a única admiração extra-futebolística que posso ter pelo Barça, é o facto de terem resistido à publicidade por baixo do símbolo do clube, o que é notável nos tempos que correm. As equipas espanholas nunca me seduziram no mundo do futebol. Não porque não tenham qualidade nem proporcionam bons espectáculos. Tem mais a ver com os adeptos, que são uma autêntica nódoa no universo latino em que estão inseridos. Obviamente que há algumas excepções, principalmente e na minha opinião pessoal, na Andaluzia. E os cullés provaram-no. Não só devolveram mil bilhetes a que tinham direito, como os que tiveram na Luz nem se deram conta da sua presença. E a verdade é que não me desiludiram, porque já esperava isso. Os ingleses que passaram pelo nosso estádio foram, de longe, os adeptos estrangeiros que mais apoiaram a sua equipa e os que mais se fizeram ouvir. Mesmo assim, num palco como a Luz, é complicado manifestarem-se até porque o barulho dos assobios é verdadeiramente ensurdecedor quando os benfiquistas querem. Nou Camp é um estádio enorme, mas peca imenso por não ter ambiente. Já tive oportunidade de o confirmar ao vivo e de trocar impressões no mesmo sentido com outras pessoas. Não é normal metade do estádio sair das bancadas quando a sua equipa acaba de sofrer o terceiro golo. Sim, isto aconteceu esta época em Barcelona e pode ser que para a semana aconteça de novo. Era bom sinal...
A imprensa espanhola, mesmo a que está ligada ao poder de Madrid - para quem não está por dentro dos assuntos espanhóis, Madrid e Barcelona não se dão nem por um milímetro - tem sido nojenta. Desde que o sorteio ditou um Benfica-Barça, não se cansam de repetir que são favas contadas e que era uma questão de se saber por quantos é que o Benfica seria despachado da Champions League. Mas esquecem-se que, por muita projecção que o Barcelona possa ter, ainda lhe falta o historial europeu que o Benfica tem. E, entre outras coisas, esquecem-se também que as grandes equipas que o Barcelona já teve, foram sempre devido a grandes jogadores estrangeiros. Tirando um ou outro caso, não me recordo de grandes jogadores espanhóis no Barça. Pelo menos comparados aos portugueses que levaram o Benfica, em diversas alturas da sua história, a grandes feitos lá fora. Foi assim no passado e é assim agora. E esquecem-se de dois pormenores importantes: foi à custa do Real Madrid e do Barcelona que o Benfica ganhou duas taças dos campeões europeus...
É giro ver os nossos adversários internos, pegarem em argumentos ridículos para tirarem qualquer mérito ao Benfica por ter chegado aos quartos de final da Champions.
Descascam no keeper benfiquista por causa da sorte que teve em não sofrer golos depois de uma série de intervenções disparatadas. Mas eu prefiro mil vezes ver o Moretto a ter deslizes que podem comprometer nos quartos de final do que não ver. É sinal que voltámos a ter as noites europeias na Luz.
Criticam-nos por assobiar o Deco, levando o argumento à falta de patriotismo. Mas que eu saiba, nem ele é português, nem estava a jogar pela selecção nacional - e eu discordo totalmente por ele representar o nosso país - nem, muito menos, deu alguma alegria aos benfiquistas. Bem pelo contrário, jogou pelo fêcêpê e era a estrela do nosso rival, pelo que à luz das rivalidades, os assobios compreendem-se. É sinal que fazem parte do sal do futebol e isso não se pode perder.
E depois de nos criticarem pela falta de patriotismo, apercebemo-nos que há muita gente indecisa este ano. Não sabem que clube apoiam, se o Liverpool, o Man Utd, o Villarreal, o Lille ou o Barcelona. É sinal que voltámos em grande aos jogos europeus.
Quanto ao resto, gostei particularmente de entrar no estádio com aquele final de tarde solarengo. Era uma noite europeia a que me esperava, mas de qualquer modo, fez-me lembrar a bola nas tardes de domingo, com muita gente à volta do estádio e onde dava para sentir uma certa mística dos velhos tempos. Só tive pena que o Benfica não tenha marcado um golo, é que o estádio vinha abaixo e faltou apenas isso para que o Inferno da Luz tivesse sido em pleno. Há, porém, uma curiosidade que acho importante referir. Nos minutos finais do jogo, os adeptos benfiquistas puxaram pela equipa como se tivessem a ganhar, empurrando-a para a área cullé e bem se notou, nesses momentos, a força e o impacto que podemos ter quando acreditamos até ao fim. E aí, lembrei-me de Anfield Road, daquele minuto final dos liverdpulians a cantar em uníssono pela sua equipa. Lembro-me sempre disso, sempre. Hei-de sempre lembrar-me disso.

2006/03/28

Aconteça o que acontecer, e como alguém disse num blog algures pela net, 'de um lado o maior clube do mundo, do outro o Barcelona'.
E esta foi a mais simples mas, ao mesmo tempo, a melhor definição que me coube ler quando faltam precisamente oito horas para mais um jogo que, à semelhança de outros recentes na Luz, nos pode pôr a sonhar mais além, manter a esperança para daqui a uma semana ou simplesmente acabar de vez com isto tudo.

2006/03/24

O que foi não volta a ser

Este post é dedicado aqueles que cresceram e aprenderam a ir à bola nos anos 80 e princípios dos 90. Mas, também, aos que não tiveram esse privilégio.

Os estádios não tinham cadeiras, o betão e o cimento sobressaiam nas bancadas e só uma pequena parte era coberta, quando o era.

Íamos soltos e à vontade para o estádio, ninguém nos controlava e andávamos pelas bancadas a fazer a nossa farra. E isso não era perigoso.

Havia muito menos sectores que dividiam o estádio, com grades ou simples redes a separá-los, e podíamos escolher livremente para onde queríamos ir porque o preço do bilhete era único para sócios e não sócios.

Não havia entraves de segurança na entrada do estádio, torniquetes, câmaras de videovigilância ou stewards privados.

Enchíamos a garrafa com água da torneira, levávamos o sumol e a coca-cola em lata e ninguém nos impedia de entrar na bancada. Agora estão lá em forma de publicidade.

Andávamos com tochas e potes de fumo na mochila, para lá e para cá, sem ninguém nos apontar o dedo. Tínhamos bandeiras, bandeirões e a nossa identificação em forma de faixa que punhamos livremente na bancada e nos muros mesmo que tivessem painés publicitários. Alguns anos depois, tornou-se incómodo.

Construíamos em poucos segundos os tifos mais emblemáticos que pode haver à base daqueles fumos e tochas que muitas vezes eram mandadas para o relvado e coloriam a bancada. E nunca ninguém se incomodou. Volvidos uns anos, pensaram que era perigoso.

Íamos brincar na rua do bairro, antes de irmos para a bola. E brincávamos à volta do estádio com uma única condição: voltar para casa ao anoitecer. Não havia telemóveis e, mesmo assim, os nossos pais sabiam onde estávamos.

Tínhamos aulas só de manhã, íamos almoçar a casa e logo a seguir partíamos para o estádio, nas quartas-feiras europeias.

Gessos, dentes partidos, joelhos rachados, pés torcidos... Fosse pelo que fosse, ninguém se queixava disso. E, tal como agora, todos tinham razão menos nós. Só que dantes éramos genuinamente genuínos.

Comíamos tudo à vontade, dentro do estádio. Pão com manteiga e fiambre, bolos de arroz e bolas de berlim. Não se falava em bares concessionados nem em espaços interiores comerciais debaixo das bancadas. Não nos impunham nada.

Dividíamos com os nossos amigos um sumol e uma coca-cola trazida de casa, comprada na tasca da esquina ou nas rulotes da praxe. Estávamos por nossa conta.

A pé, de bicicleta ou de autocarro e metro íamos a casa dos nossos amigos, mesmo que morassem a quilómetros da nossa, e entrávamos sem bater para irmos à bola. Chegávamos ao estádio e havia tempo para jogar futebol na rua, com a baliza sinalizada por duas pedras e mesmo assim não nos queixávamos.

E os nossos heróis, lembram-se? Nada de traições porque o dinheiro não falava mais alto. O que contava era o amor à camisola. Era honrar o símbolo que vestiam em campo e fora dele. Corriam por nós, porque eles também eram um dos nossos. E, por isso, confundiam-se com as camisolas.

Na bancada do estádio estávamos todos unidos pelo mesmo ideal e pelo mesmo interesse. Uns cantavam, outros assobiavam. E ninguém os mandava calar, sentar ou baixar a bandeira. Não havia sede de protagonismo nem a moda dos ultras, casuals ou hooligans ou o que quer que fosse. Éramos todos índios da mesma massa.

Não se falava em repressão, problemas de segurança, escoltas e unidades de controlo policiais, stewards e muito menos de Pereiras. Não imaginávamos sequer que um dia fossemos sujeitos a leis hipócritas e denunciadoras de um certo autoritarismo oficial. Quem se portava mal, fugia pelas bancadas e escondia-se lá pelo meio. E perdia o melhor, porque não via o jogo com os seus. A isto chama-se carolice.

Tínhamos liberdade e direitos. E aprendíamos, por nós próprios, a lidar com os fracassos, sucessos e deveres. Desenvolvíamos a nossa identidade e personalidade com valores agora esquecidos. E nunca veio mal ao mundo por isso.

2006/03/17

Durante largos anos, há décadas atrás, Portugal vivia sob a égide dos três F. Futebol, Fado e Fátima eram os conceitos que uniam os portugueses numa sociedade profundamente atrasada a todos os níveis e que ainda hoje trás consequências bem visíveis. De Fátima, recuso-me a falar. Tenho demasiado respeito e pouco à vontade para escrever o que quer que seja sobre um assunto religioso, o que não significa que não tenha a minha opinião. Digamos que não é para aqui chamada. Do Fado, tenho a maior admiração por todas as razões e mais alguma. Porque é português e não tem tradução em mais nenhuma língua do mundo. Porque é um dos poucos símbolos que restam da identidade e cultura portuguesas. Porque remete para a melancolia que a saudade envolve, curiosamente, outra palavra sem tradução directa. Porque é uma palavra triste com tanta força que a torna bonita. E nunca ouvi ninguém dizer que as coisas tristes não são bonitas. E depois tem o extremo bom gosto de se fazer acompanhar por aquele som da guitarra portuguesa que o torna idílico. Do Futebol, posso dizer que até vivia sem ele. Mas falar de futebol é falar obrigatoriamente do Benfica e sem o meu clube já há muito tempo que não passo. Quando vi ontem em casa um jornal desportivo aproveitado para depósito de lixo, que guardei de propósito para mais tarde recordar a noite de sonho em Anfield Road, fiquei sem pingo de sangue. Foi como se me tivessem tirado um bocado dessa noite. E tendo em conta que foi uma noite intensamente vivida, um bocado acaba por ser muito. Também ontem, encontrei uma folha rasurada que tinha escrito 'Parking Benfica' que já nem me lembrava que a tinha trazido de Old Trafford e fiquei mais descansado, como se uma coisa tivesse compensado a outra. São pormenores como este que também acabam por definir o benfiquismo que corre nas veias. Em casa guardo inúmeras recordações do meu clube. Não é no meu quarto, é em casa, espalhadas pelas divisões. Para além de não ter paciência, não suporto arrumar tudo no mesmo sítio, na mesma gaveta, no mesmo armário. As coisas do Benfica são para serem livres, como sempre este clube fez questão de ser, mesmo nos tempos da outra senhora. É por isso que de tempos a tempos, quando menos espero e procuro, aparecem-me à frente certas e determinadas lembranças de épocas passadas. Há umas semanas, fui dar de caras com um bandeirão da época 1985/86 sagradamente guardado em casa. Pouco tempo depois, vivo uma noite europeia que me fez lembrar essa década em que o Inferno da Luz foi mitificado. Para de seguida, sair do país e experimentar aquela que foi, muito provavelmente, a melhor noite futebolística da minha vida fora de portas. De repente, chega-se à Catedral e quase tudo cai numa semana. De repente, desce-se do céu e afinal nem tudo é como gostaríamos que fosse. De repente, faz-se um Fado que tão depressa nos leva ao auge como a seguir nos deixa de rastos. O Benfica dos últimos tempos tem sido assim. Um amor trágico mas tremendamente compensador. Há alguma coisa mais genuína?

2006/03/13

Walk on with hope in your heart, Liverpool...
Tudo começou em finais de Dezembro quando, pouco depois de se saber que seria o Liverpool, reservou-se a viagem por uma das lowcost que andam aí na berra. Da minha parte, não precisei de esperar pelo resultado da 1ª mão na Luz. Eu queria mesmo era ir a Anfield, fosse qual fosse o resultado, por várias razões. Porque desde que me conheço sempre admirei o Liverpool muito por culpa dos seus adeptos que fazem um ambiente verdadeiramente único naquele recinto. Porque cresci com o Liverpool a ser um dos grandes lá fora na Europa. Porque falar em futebol inglês era, acima de tudo, falar no Liverpool, em Anfield Road e... no Kop. E é aqui que queria chegar, a esta mítica bancada.
O estádio em si, é um daqueles tipicamente britânicos, com as bancadas em cima do relvado e não muito altas. Não é grande, leva apenas 45 mil supporters. Mas acreditem que é o suficiente para tornar Anfield num autêntico paraíso de apoio. Podia dizer inferno, mas um inferno pressupõe algum caos e descoordenação nos cânticos e onde tudo vale para destabilizar o adversário com assobios violentíssimos e palavras de ordem da praxe. Ali não há nada disso. Há apenas um sentido. O de apoiar o Liverpool, seja qual for o resultado e o futebol da equipa. Ali só há gargantas para cantar, em unísono, os cânticos da casa. Conseguem uma sincronização de tal ordem que se torna perfeitamente perceptível a letra do cântico. Uma serenata ao vivo, é o que os liverdpulians fazem em Anfield.
O Kop tem tudo o que esperávamos e muito mais.
Este muito mais é impossível de se aperceber e sentir numa transmissão televisiva e dificilmente hei-de ver em mais alguma parte do mundo.
Este muito mais começa na imponência daquela bancada cheia de bandeiras e cachecóis vermelhos e brancos que se vai compondo à medida que se aproxima o início do jogo.
Este muito mais continua quando começam a cantar o You'll Never Walk Alone quando o Liverpool entra em campo. E aqui, não há nenhum adepto do Benfica que não tenha ficado arrepiado com esse momento. Alguns ainda tentaram entoar um Benfica, Benfica! mas, cá para mim e com todo o desplante que me é permitido, só revela falta de respeito por um momento épico como aquele em pleno Anfield Road. Ali, naquele preciso momento, só dava YNWA e o resto não interessava mesmo, era para esquecer. Acho que foram os primeiros segundos da minha vida em que não quis saber do Benfica para nada... Naquele momento, senti-me pequeno, verdadeiramente pequeno, mas ao mesmo tempo um privilegiado por presenciar ao vivo o que sempre quis experimentar desde que comecei a entender a importância do Kop.
Este muito mais passa, obrigatoriamente, pelo golo do Simão na baliza do Kop. E nós que estavamos atrás da outra baliza, tivemos uma visão mágica da jogada e do arco que a bola desenhou antes de se fazer ao golo. Depois, bem... depois foi a explosão em Anfield. Foi parar no tempo e não acreditar no que estava a acontecer. Foi o caos total no nosso sector. Foi gritar mais alto que os ingleses como que a dizer-lhes que eles têm o paraíso mas nós tinhamos ali o inferno connosco. Foi ignorar o steward que tantas vezes me chateou para não estar em cima da cadeira e saltar para cima dos meus. Mas depois foi também uma sensação de dejá-vu. Lembrei-me de San Siro, contra o Inter. Não é que seja um estádio comparável a Anfield Road pela sua atmosfera, nada disso. Mas também foi assim que começamos, a ganhar e depois foi o que foi. Acalmei-me. Não queria fazer a festa tão cedo, muito menos com uns ingleses completamente fanáticos no apoio à sua equipa, de tal modo que me faziam sentir que se marcassem um golo, era uma questão de tempo até resolverem o jogo a seu favor. E lá começaram eles outra serenata. Nunca vi nada igual, mas o mais espantoso ainda estava para vir.
Este muito mais também inclui o golo do Miccoli, desta vez na baliza onde nós estavamos. Como se não bastasse um golo, os nossos jogadores lembraram-se de nos presentear com outro, mas agora junto de nós, mesmo junto de nós. Dois golos em Anfield contra o campeão europeu altamente apoiado como nunca tinha visto na vida por um Kop verdadeiramente mítico. No mínimo, é de chorar por mais. E então, o impensável acontece. A perder por dois golos, a bola vai ao centro do relvado e começa o maior festival que já vi em toda a minha vida. Não havia um único inglês calado. Todos cantavam o hino, aquele hino que não me sai da cabeça. E chega a parte em que cantam Walk on walk on, with hope in your heart and you'll never walk alone... you'll never walk alone! como se estivessem a ganhar... Fala-se tanto em mentalidade e tivemos ali mesmo ao vivo uma lição impossível de esquecer. Onde mais isto podia acontecer senão em Anfield?
E este muito mais acaba na classe e desportivismo que os liverdpulians demonstraram no final do jogo, quando aplaudiram não só os jogadores do Benfica que desacelararam o passo quando iam para os balneários, como também os próprios adeptos benfiquistas à medida que os supporters ingleses iam abandonando a bancada. Alguns chegaram a mandar bandeiras e cachecóis para o nosso sector sem nada em troca, como prova de consideração pelo apoio que demos ao Benfica. Alguns de nós começaram a cantar a versão Liverpool que eles puxam em Anfield e vejo uma rapariga inglesa a chorar. Todos os outros batem-nos palmas. Amava que fosse sempre assim. Mas ao mesmo tempo também gosto que seja apenas uma vez na vida que isto acontece. Porque se há imagens que ficam gravadas para sempre, esta é mesmo uma delas.
Mais tarde, chego ao aeroporto e na zona de espera chega-se ao pé de mim um liverdpulian que sem mais nem menos me deu os parabéns pelo jogo e confidenciou-me que os adeptos do SLB tinham sido, na sua opinião, dos melhores que já passaram por Anfield.

- Why do you think so?, perguntei-lhe

- That's incredible you never stop singing for Benfica even know your players didn't hear because we're always outsinging you. But when we shut up for a while all the stadium could hear you shouting. Besides we always saw movement in your stand. Very good and be sure most of Liverpool supporters think the same.

Durante o jogo não fiquei com essa sensação, apesar de ter recebido sms a dizer que se ouviam os benfiquistas na televisão. Mas no final, depois de toda aquela demonstração de respeito pelos liverdpulians em pleno Anfield, fiquei com a impressão que tinhamos estado bem. O nosso apoio foi elogiado pelos melhores adeptos do mundo... Fui-me embora ainda mais orgulhoso que nunca. Chego a casa, impossível estar ainda refeito de tudo o que vivi e senti nessa noite, e não sou capaz de evitar dar um salto ao Red and White Kop. Fico longos minutos a ler e a reler o que os ingleses acharam do jogo, do Benfica e dos benfiquistas e não consigo evitar alguma emoção. Nunca nenhuns adeptos me tocaram tanto como os do Liverpool. E faço uma promessa: até final da época, sempre que levar cachecol, será do Liverpool. É impossível ficar indiferente a tanto respeito e admiração que eles demonstraram por nós.
E deixo aqui algumas transcrições do fórum deles, entre tantas que não parei de ler.
- Your fans at Luz and at Anfield were superb.
- Take care against Barcelona, Glorioso SLB! I'll support Benfica through the final!
- It was good to see their players appreciating the standing ovation at the end and their fans likewise with nice renditions of "Liverpool" and "YNWA" from them. Shame we couldn't get an end to end "Benfiiiiiiiiiiiica" going like in the Luz. Class support from both sides.
- Was nice that Benfica supporters joined in with "YNWA" and after the second goal went in I just stood up and applauded, and stayed till all the Benfica lads went off to show my respect to them.
- Well done Benfica... applause for your team and your fans. Great club with history, I hope you can go further to delight your fans.
- We applauded both teams and the supporters of the pitch and stadium. THAT is support - magnificent in glory, but gracious in defeat.
Muito mais coisas havia para contar. Coisas que de tão sentidas ficam cá dentro como tesouros que, cada um à sua maneira, vai partilhando à medida que nos lembramos. Dois clubes com História. Um Kop de mentalidade absolutamente divinal. E um pequeno Inferno da Luz em pleno Anfield que, duvido, alguma vez mais na vida se irá repetir. Se há momentos eternos, este é um dos que vai morrer comigo.

2006/03/01

You'll never walk alone, Benfica...
- Então, o que achaste do ambiente na Luz?
- Muito bom. E olha que não é frequente eu dizer isto...
Sabem porque não é frequente dizer isto? Porque quem o disse, faz parte de um dos grupos do fêcêpê e todos sabemos que a rivalidade e o orgulho muitas vezes nos faz esconder coisas óbvias. E uma delas é que a nova Catedral começa a recuperar aquele ambiente tão característico e próprio do antigo estádio da Luz nas grandes noites de futebol - europeias, de clássico ou de derby.
Não estive presente na Luz contra os tripeiros por razões de força maior - isto também não é só bola, há outras coisas que tantas vezes deixamos para segundo plano quando são das mais importantes que temos na vida. Tive o azar de ser em altura de clássico, mas a grande verdade é que dentro de exactamente uma semana começa a segunda parte duma odisseia que pode ficar na história recente do Benfica e, diga-se de passagem, na minha também. E é nessa odisseia que penso há já muito tempo. A primeira parte correu bastante bem, numa terça-feira que personificou mais uma vez esta época, o regresso às noites europeias e ao Inferno da Luz. É engraçado ver que os ingleses não se dão nada bem com este estádio: a selecção encarregou-se de despachar os ingleses no Euro2004 com um golo do benfiquíssimo Rui Costa e o Benfica despachou o Man Utd das competições europeias e encostou o Liverpool a uma posição desconfortável para um campeão europeu. E enquanto os liverdpulians mostram uma faixa a dizer 'Sucess may be a journey but it´s our destination', apetece-me responder com um simples 'Welcome to hell... this is Luz!'
Quando o Man Utd jogou na Luz, Alex Ferguson falou do ambiente do estádio e comparou-o a Anfield Road, o recinto de um dos seus maiores rivais ingleses. Sinal de respeito e de constatação que o Kop é uma referência com contornos míticos. Mal sabíamos nós, nessa altura, que pouco tempo depois iríamos jogar contra os donos desse estádio. Quando o Man Utd jogou na Luz, deixei neste espaço algumas opiniões dos seus supporters em relação aos adeptos do Benfica no estádio da Luz. Agora, não podia ignorar alguns comentários que os adeptos do Liverpool deixaram no seu próprio fórum, horas depois de terem vindo à Luz ver a sua equipa perder.
- I was mightly impressed with the stadium, which was loud when the Benfica fans got going.

- Heard a lot about their stadium being loud and noisy, how does the noise compare with anfield?


- When they got a corner the noise was as loud as a goal at anfield.

- They were booing us whenever we sung and they really did sound loud.

-
They're lot could make a load of noise, particularly after a goal.

-
Their fans were brilliant on and off the pitch with us. I wont be at the return leg but anyone who is I hope they show the same friendliness to Benfica fans as they shown to us, regardless of the outcome of the tie. For me to say something like that, they must have been pretty sound!
E termino com algo que gostava que todos os que andam por este mundo, ultras ou não, tivessem assistido uns bons minutos depois do jogo ter acabado e com o estádio da Luz praticamente vazio. Quem esteve presente nesses instantes teve uma lição prática e ao vivo do que é mentalidade. Uma lição que não veio da pátria do tifo, mas de um país cujos adeptos me habituei a admirar desde que vejo futebol, precisamente pela sua persistência nos cânticos. Parecia que o jogo estava a decorrer e nem parecia que tinham perdido. Quatro mil adeptos do Liverpool, no piso 3 do estádio da Luz, não paravam de cantar pela sua equipa que, minutos antes, tinha morrido na praia com um golo do Benfica. Acho que nunca estive tanto tempo a olhar lá para cima. E acho que nunca, como naquele momento, quis tanto ir lá para cima. No meio disto tudo houve um cântico que, pela primeira vez na minha vida, tive o privilégio de ouvir num estádio ao vivo: You'll never walk alone. Nem preciso dizer mais nada...