2006/04/28

Uns e outros mas todos iguais
Não fomos campeões este ano e já nem sequer vamos a tempo de o ser. Mas guardo um especial aconchego na alma incrivelmente proporcionado por tripeiros e lagartos.
Por um lado, em plena alameda do Dragão, e em simultâneo com os adeptos, alguns jogadores do fêcêpê empoleiram-se ao ritmo do filhos da puta SLB - o cântico mais badalado dos últimos tempos. A preocupação deles por nós chega a atingir os limites da venerável inveja.
Por outro lado, em vésperas de eleições dos nossos vizinhos de Lisboa leio, num jornal diário, um familiar de um dos candidatos à presidência do clube diferente dizer que "na nossa família não houve nem há nenhum benfiquista". Como se a preocupação em ganhar as eleições dependesse directamente do simples facto de haver ou não benfiquistas na família.
A rivalidade é saudável no futebol, faz parte do sal e da pimenta desta paixão que, por ser isso mesmo, carrega alguns excessos mais ou menos desculpáveis. Principalmente quando o que está em causa são jogos entre os rivais de sempre. Mas aqui a conclusão a tirar é demasiado simples, porque na verdade o que as move são sentimentos demasiado básicos para se tornarem difíceis de se perceber: a paixão que têm pelos seus clubes mais parece medir-se não pelo fervor com que sentem as suas camisolas, mas pela garra com que antipatizam pelo Benfica. Claro que há excepções, mas parece que são mais tripeiros ou lagartos quanto mais anti-benfiquistas o demonstrarem. E tenho para mim que o facto do Benfica ter ganho o campeonato o ano passado, após 11 anos de jejum, levou-os a acirrar ainda mais essa tendência.
E isso não me entristece, deixa-me até orgulhoso. O que me entristece é que eles não conhecem o sabor de fazer uma festa só deles sem proclamarem o anti-benfiquismo primário de muitos da sua horda.

2006/04/16

A cultura do Kop
Há dias atrás fiquei a saber que Liverpool vai ser a capital europeia da cultura em 2008. Há dias atrás este facto foi notícia nos programas de informação televisivos. A acompanhar a notícia surgiam várias imagens de vários pontos de interesse desta cidade inglesa. E uma das que passou foi uma imagem do Kop de Anfield Road...
Um Kop que tem sobrevivido aos avanços do futebol indústria tem de ter uma cultura de resistência notável. Um Kop que defende a sua equipa com tamanha garra quando está prestes a ser eliminada da maior competição europeia de clubes, tem de ter uma cultura de apoio incansável. Um Kop que aplaude de pé a equipa adversária que acabou de os eliminar, tem de ter uma cultura de fair-play e respeito como nunca vi igual.
Isto também é cultura.

2006/04/10

Em todo o lado...
A certa altura, no intervalo do jogo entre o sportém e o fêcêpê, de extrema importância para a classificação do campeonato, ouve-se pelo estádio todo o hino dos jogos olímpicos de Barcelona, interpretado por Fredy Mercury e Montserrat Cabalet. Um momento de grande união entre lagartos e tripeiros que puxaram pelos galões para gritarem em uníssono o refrão deste hino que versa apenas e só "Barcelona". Confesso que o autor desta ideia teve um excelente sentido de oportunidade. E fez-me lembrar que tenho saudades das faixas que, uns e outros, expunham nas redes dos estádios a agradecer às equipas estrangeiras por terem eliminado o Benfica das competições europeias. Se bem que isso, há uns anos atrás e tal como este ano, só significaria terem o trabalho de as pintar em meados de Abril ou até mais tarde.
A certa altura, já o jogo tinha terminado e os comentadores ultimavam as opiniões sobre a partida, começa-se a ouvir um cântico bastante conhecido para os lados do Dragão, mas em pleno Alvalade XXI. Um cântico que, como tive oportunidade de ler num blog azul e branco, já é considerado mítico por aquelas bandas. Cada vez mais alto. Até que chega à parte do "filho da puta SLB" e, mais uma vez, não engana. Confesso que me deu, como me dá sempre, um gozo especial. O Benfica não jogou naquele palco contra nenhuma daquelas equipas. O Benfica nem sequer estava em jogo neste clássico. Mas a verdade, é que o Benfica há-de estar sempre presente onde quer que eles estejam. Sempre...

2006/04/06

Runaground, Benfica...

O título é duma música dos James que espelha bem o meu estado de espírito depois desta odisseia europeia, de onde nunca deveríamos ter saído. Tudo isto, para mim, jamais foi um sonho. Foi uma realidade que devolveu aos mais velhos o sentimento que era um lugar-comum no antigo Estádio da Luz, por força das quartas-feiras europeias que o Benfica nos brindou anos e anos a fio. Foi uma realidade que levou os mais novos a descobrir a magia desses tempos, agora personificada no novo recinto da Luz. E foi uma realidade que nos deu o desejo profundo de voltar a repeti-la nos próximos tempos, porque ao fim de tanto tempo, este regresso à principal prova europeia acabou por mostrar que este é o nosso lugar, conquistado e merecido por direito próprio.
E tudo isto acabou. Vou ter saudades das noites europeias. Dos sessenta e cinco mil que faziam o Inferno da Luz. Do ambiente que se criava no estádio que me levava aos bons velhos tempos. Sim, eu sei. Eu sei que é um cliché mas quem, como eu, começou a ir à bola muito novo e bebeu esses ambientes, percebe a nostalgia que nos invade nestas alturas. Também vou ter saudades de ir lá fora para ver e sentir a força de tantas almas unidas pelo mesmo ideal. Hei-de relembrar vezes sem conta os pequenos infernos que conseguimos criar nos estádios dos nossos adversários. De me cruzar com companheiros em lugares tão longínquos de casa, por causa de um símbolo que mexe comigo mais do que muitos conseguem entender. Vou recordar os 'quita los pantallones' por terras de nuestros hermanos. Do equatoriano que entrou pelo quarto dentro sem pedir licença e abriu as janelas de madrugada, depois de termos andado de noite às voltas por Valência a redescobrir onde ficava o nosso hostel. De ter dito ao Miguel, à porta do El Madrigal, que ele não faz falta no Benfica porque o Nélson esteve em grande - e ainda estou convencido que é mesmo assim. De ouvir histórias de naves espaciais em pleno auto-estrada. De termos entrado pelo intervalo dentro a cantar pelo Benfica que chegou ao empate contra uns espanhóis sem história nem historial europeus. De chegar a uma hora do jogo começar em Old Trafford depois de uma viagem com escala em Frankfurt que envolveu um avião a andar às voltas por cima de Manchester porque estava adiantado em relação ao horário previsto. De ter ficado desiludido com os adeptos do Man Utd e orgulhoso pelo Força Benfica entoado com tanta alma e fervor que a derrota ficou cravada cá dentro. De não terem deixado os jogadores benfiquistas aproximar-se do nosso sector para agradecerem o apoio a milhares de quilómetros de casa, à boa maneira das regras do futebol moderno. Não me vou esquecer nunca dos momentos incríveis que os liverdpulians proporcionaram, dentro e fora do estádio, mas principalmente do You´ll never walk alone cantado ao vivo no seu local de origem, depois de uma viagem com escala em Málaga. Dos meus companheiros de bancada que ultrapassaram todas as dificuldades que se lhes depararam, e que não foram poucas, para não deixarem de estar presentes em Anfield Road. De ter chegado ao aeroporto de Liverpool e deparar-me com imensa gente vinda de outros lados por causa do Benfica. Do cab que passava os sinais vermelhos até ao centro da cidade. De ter realizado um sonho de muitos anos que era ver o Kop e outro de não tantos anos que me fez voltar aos tempos em que as tochas e os fumos eram presença habitual nas curvas. Vou ter saudades disto tudo. E do que ficou para vir...
E tudo isto acabou. Em Camp Nou, que teve a maior deslocação de adeptos de um clube adversário do Barcelona. Aquela mancha vermelha lá no alto do estádio era impressionante e a televisão encarregou-se de mostrá-la várias vezes. Assim como era impressionante ouvir nitidamente os cânticos do Benfica na transmisão televisiva, ao ponto de, por várias vezes, sobreporem-se aos comentadores. Que inveja por não estar a viver esses momentos na bancada. Desta vez não fui, mas fica o consolo por ter convencido amigos e familiares a irem até à Catalunha ver o Benfica lá fora e confirmarem o que já tinha visto em Camp Nou. O ambiente é uma farsa e os seus adeptos são outra. Para mim, o futebol não é apenas onze contra onze. É também, e se calhar mais importante, o que se passa nas bancadas e quanto a isso, o Barcelona está a léguas de ser um grande clube. E, mais uma vez, confirmou-se o que já tinha percebido em San Siro e que nunca me canso de dizer: quando pensamos que já vimos toda a força do clube, ele encarrega-se de mostrar que, em certos momentos, há mais qualquer coisa que nos faz sentir que é maior do que imaginávamos. Foi assim em Old Trafford, em Anfield Road e em Camp Nou. Seria assim novamente em San Siro. E é disso que vou ter mais saudades.
- Olha...! Olha, ouve! Estás a ouvir?!, perguntei várias vezes durante o jogo quando ouvia os benfiquistas em Camp Nou. Estava tão ou mais preocupado com o apoio do que propriamente com a partida, mas isto são coisas minhas desde que me conheço.
E tudo isto acabou. Mas ao contrário de muitos que oiço por aí, não foi o acordar de um sonho. Foi o reviver de emoções por que já tinha passado quando era mais novo. Foi o redescobrir de um tempo e lugar de que tinha saudades. Foi o renascer duma esperança em que tudo isto se repita com todos estes ingredientes que não deixam qualquer um indiferente. Foi um privilégio estar presente ao longo desta odisseia e amava que pelo menos uma vez na vida todos os adeptos do clube tivessem oportunidade de viver e sentir o que só o Benfica poderia proporcionar nas deslocações ao estrangeiro.
Mas tudo isto acabou. E eu não me vou esquecer. Nunca me vou esquecer.

2006/04/03

De repente o grande Sérgio pega no microfone e começa a cantar o mítico SLB FDP SLB. Grande demonstração de raça, amor à camisola, empenho e compromisso para com a instituição que lhe paga. Escusado será dizer que o cântico pegou imediatamente em todo estádio.

Não resisti. As linhas anteriores não são mais do que uma transcrição de um post dum blog tripeiro que, lá para o meio, fala sobre a vitória do fêcêpê na taça de Portugal em basquetebol. Parece que, poucas horas depois de terem ganho ao Benfica, os jogadores apareceram no intervalo do dragão e um deles resolveu mostrar o seu ímpeto anti-benfiquista. O que se passou nesse momento, foi mais uma prova cabal da grandeza do SLB.
Triste sina a de um clube que teima em proclamar contra o seu maior rival, fazendo disso um hino por todo o estádio. Ainda está para chegar o dia em que hão-de perceber que, para se ser verdadeiramente grande, não chega ganhar, ganhar e ganhar. Basta que, depois disso, glorifiquem as suas côres por si só e sintam o orgulho que eu sinto quando, quer ganhe ou perca, só penso no E Pluribus Unum.
Para aquelas bandas, a demonstração de raça e amor à camisola não é em função do que dão ao seu próprio clube, mas sim, e antes de tudo o mais, do que dão contra o Benfica. O resto é quase secundário.