2006/11/14

Para mim, é muito simples. Nunca estive de acordo com a entrada de José Veiga no Benfica por tudo e por nada.
Por tudo, porque é do fêcêpê e ninguém me diz que não havia nenhum benfiquista que vestisse literalmente a camisola. Porque não me esqueço dos casos Paulo Sousa e João Pinto no Verão de 1994. Porque é impossível dissociar a transferência do Figo ao fenómeno do futebol indústria tal a forma como foi efectuada. Porque, assumido pelo próprio, festejava as derrotas do Benfica nas finais da Taça dos Campeões Europeus. Porque não tem nível nem formação para envergar uma camisola encarnada. E nem precisava de ter, basta não ser vermelho e branco. Porque tem a escola dos seus antigos amigos e agora inimigos do Dragão, própria de uma forma de estar que discordo desde sempre. Porque o conteúdo é bom mas a forma é lamentavelmente triste. O nível é baixo, a categoria inexistente. E para amenizar a forma, prefiro pensar que é a da escola dos seus ex-comparsas do fêcêpê e qualquer troca verbal e gestual de mimos entre eles é mesmo um problema deles. Lamento, é que tenha o Benfica inerentemente associado, porque quer-se queira ou não, é um dirigente do clube que ali está.
Por nada, porque não tendo nada a ver com futebol, quem foge aos seus compromissos fiscais, usando ou não, métodos que pisam a linha entre a imoralidade e a legalidade, não me merece respeito enquanto cidadão.
Há dois anos e meio, havia todas as razões do mundo para que José Veiga não entrasse no Benfica.
Mas é o Benfica que verdadeiramente me interessa. E, apesar de ser contra os meus princípios ter alguém no meu clube desta estirpe, reconheço-lhe mérito enquanto dirigente do SLB. Os resultados dos últimos tempos, falam por si e são evidentes. O cargo dentro do Benfica trouxe-lhe a visibilidade que nunca teve. Passam a ser públicos os incumprimentos fiscais e surgem notícias de acções do Fisco e outras interpostas nos tribunais pelos motivos menos abonatórios. A serem verdade, pessoalmente era motivo para se demitir automaticamente do seu cargo na Luz. Porque não basta ser, é preciso parecer. No entanto, ele não saíu e continuou no clube, alegando que tudo isso era em relação à sua vida privada e pessoal noutra actividade fora do Benfica. Fora e antes de entrar no Benfica. Dentro do Benfica, não se lhe conhecem incumprimentos, pelo menos publicamente. E até se recusou a fazer parte da estrutura administrativa da sad enquanto estes casos não estivessem resolvidos. Com ele no Benfica, o que não sai cá para fora passou a ser tudo o que não ficava lá dentro há poucos anos atrás. Vimos trabalho feito e vemos figuras ligadas, ou que já estiveram ligadas ao Benfica, a elogiar o seu trabalho dentro de nossa casa. E é isso que, no fundo, interessa. É para isso que devemos olhar, apesar da forma. Apesar de ninguém me tirar da cabeça que podia haver outra pessoa, um dos nossos, a fazer este trabalho sem estas novelas. Mas também é verdade que ninguém me tira da cabeça que não há coincidências e o facto da TVI (get off the air...) saber de antemão que iriam estar dois funcionários e um polícia para o arresto na casa de José Veiga, e ter estado presente para filmar, não deixa muitas dúvidas. Há aqui gato escondido com o rabo de fora. É que este tipo de acção é feita de surpresa e sem notificação do visado. Por isso, quem ficou no cargo, com todos os casos e contra-casos que até então se sucederam, não seria este que devia levar à saída de José Veiga.
Agora, há todas as razões do mundo para que não saia do Benfica.

2006/11/03

You'll Never Walk Alone revisited
Já passou tempo suficiente desde o jogo contra o fêcêpê para que todas as polémicas tivessem o seu tempo de antena. A última é, sem dúvida alguma, o comunicado da sad portista escrito em cima do joelho e com uma gritante falta de argumentos. Pior do que esse comunicado, só os que vão atrás e acenam com a cabeça a tudo o que é escrito, dito e falado por quem tem os maiores telhados de vidro. Para os mais esquecidos, o Anderson veio de uma lesão que o impediu de jogar contra os lagartos e esteve em dúvida toda a semana para o jogo contra o Benfica. Mais, ele reentrou no jogo depois de ter sofrido a falta, tendo saído cinco minutos depois. Mais ainda, no final do jogo, andou aos saltos pelo relvado a festejar com os seus maninhos, paizinhos e vovozinhos. Dizer que o lance foi agressivo e violento é mandar às malvas toda a noção de bom-senso. Todo o jogo foi pautado com grande respeito entre os jogadores o que, aliás, me deixou surpreendido. Ou seja, há todo um cenário e contexto que ridiculariza ainda mais esse comunicado.
Não foi impressão minha, eu vi e revi o lance e ouvi e reouvi tudo o que foi dito durante e após o jogo. O grego, como está na moda chamar agora, corta a bola e só há contacto físico a seguir, que nem é nada de especial, diga-se de passagem. Jogada limpa, sem falta nem cartão amarelo. Isto foi o que eu vi e confirmado pelos comentários em directo e pelas análises da imprensa escrita ao trabalho do árbitro. Passado umas horas após o jogo, o Anderson vai à faca e sai um comunicado. Então, os comentadores e jornalistas começam a ver o lance de outra forma. De um lance limpo e sem maldade, passou a ser um lance viril e duro. De um lance sem falta, passou a ser merecedor de cartão amarelo. Vejo e revejo o lance. E lembro-me que este nosso futebol não tem valores nem virtudes.
O Veiga continua igual a si próprio, ou seja, sem nível para alguém com demasiadas responsabilidades na estrutura do Benfica. Mas todos sabemos qual a escola dele e onde ele bebeu essa água. Lamento sinceramente é que tenha de levar com este traste no meu clube e se digo que o fêcêpê não soube perder este jogo, refugiando-se em tentativas de culpabilizar jogadores do Benfica para arranjar bodes expiatórios - para o quê é que não entendo, já que ganharam o jogo - também digo que o Veiga não soube estar na altura em que chegámos ao empate e, aposto, não saberia estar em caso de vitória. Vejo e revejo as imagens. E lembro-me dos adeptos do Celtic.
Num espaço de sensivelmente nove meses, os benfiquistas levaram com dois clubes britânicos que têm, opinião pessoal, dos melhores adeptos do mundo. Acredito em coincidências mas não acho que seja coincidente terem como hino o YNWA. Há qualquer coisa neste lema que os eleva a um patamar distinto e memorável que me leva a respeitá-los como grandes supporters no apoio aos seus clubes e como mentores de uma maneira de estar no futebol que devia deixar a pensar muito adepto português. Eles estão a perder por três golos e a poucos minutos do fim, arranjam toda a alma do mundo, levantam-se e entoam o You'll Never Walk Alone num dos topos da Luz. Não há nada a fazer nestes momentos a não ser ficar calado e admirar esta serenata de dez mil gargantas. Sim, serenata. Porque eles cantam como se fossem um só tornando-se perfeitamente perceptível a letra. Fazem isto como ninguém. E lembro-me dos adeptos do Liverpool.
A homenagem que os celtics fizeram antes do jogo começar ao exporem um lençol com sessenta e quatro metros quadrados em honra a Miklos Feher merece-me grande respeito. Soube disto num fórum de adeptos escoceses e o processo foi muito simples e rápido. Um deles lembrou-se dos dois jogadores que faleceram enquanto vestiam a camisola do Celtic, John Thomson e Johnny Doyle (cada um tem um lençol que é mostrado com regularidade nas bancadas) e sugeriu fazerem um tributo ao jogador do Benfica em pleno Estádio da Luz. Da sugestão até conseguirem ter o lençol nas suas mãos, foi uma corrida contra o tempo. Em dois dias já tinham cerca mil euros. E como se isso não bastasse, resolveram deixar aberto o fundo de contribuição de modo a reunirem o máximo que pudessem para dar a um hospital de Lisboa. Dito e feito. É aqui, e não só nas bancadas, que se prova que o melhor do futebol ainda são os adeptos.