2006/07/26

Dois trunfos na Luz
A nova época está prestes a começar oficialmente e com isso as expectativas nascem renovadas, principalmente com o regresso do Rui Costa ao Benfica. O primeiro trunfo da época. Em termos de plantel, julgo que estão reunidas as condições para que o Simão saia da equipa sem que seja notória a sua ausência. Fernando Santos, outro benfiquista confesso que nunca escondeu a sua paixão mesmo quando foi treinador dos nossos maiores rivais, tem preparado a equipa nesse sentido e as indicações mostradas contra o Bordéus, que estará na fase de grupos da Champions, deixou-me mais descansado.
Mas o que mais gostei na apresentação da equipa, foi ver um novo cântico em força no estádio da Luz, que já começou a entrar nos ouvidos dos sócios e adeptos do Benfica. É simples, demasiado simples mesmo, directo e parte de um fado muito conhecido: Lisboa, menina e moça. A única palavra que é cantada é a mais importante de todas: Benfica. O resto é em forma de melodia e como todos sabem a música, torna-se mais fácil de ser acompanhada pelo estádio inteiro. O ritmo fica no ouvido e rapidamente alastra pelo recinto, sendo fácil aguentá-lo por largos minutos. Dá gozo e vontade. E dá-se uma comunhão entre adeptos e equipa. Se nos próximos jogos este cântico for insistido, vai ser um caso sério durante a época que aí vem. O mais curioso disto tudo é que os únicos cânticos que pegam em todo o estádio vêm todos do mesmo lado. E a razão é só uma: nota-se muito mais preocupação em puxar pelo estádio e restantes adeptos, no fundo, pelo Benfica. É assim que, acima de tudo, se apoia uma equipa. Para mim, este é o segundo trunfo da época.

2006/07/20

O Benfica e a Feira da Ladra

«Num destes sábados, fui à Feira da Ladra, onde não ia já há muitos meses. Terças e sábados, o lisboeta já sabe que a Feira da Ladra o espera naquele terreiro junto ao hospital da Marinha, entre palácios e as igrejas de S. Vicente de Fora e de Santa Engrácia, apinhadinha de feirantes, uns mais antigos e mais profissionais, outros ainda agora chegados com pequenas bancas improvisadas, tentando fazer pela vida.

A Feira da Ladra é sempre um espectáculo, mas, devo dizê-lo, já não é o que era. Hoje, a feira é um amontoado de bancas carregadas de roupa, de sapatos, de quinquilharias que não têm nada a ver com a velha feira de outros tempos onde os vendedores sabiam bem as preciosidades que tinham expostas.

Conheci ali alguns feirantes que percorriam o país de ponta a ponta, à procura de objectos para uma clientela que sabia muito bem o que queria e o que valiam certas peças. Candeeiros antigos, loiças, livros, mapas, pequenas jóias, alguns antiquários ainda resistem ao vendaval das camisolas, das calças de ganga ou das botas.

Ainda vi por lá os amigos das moedas e dos selos, mas tudo é abafado pelo som estridente dos megafones, "não custa duzentos, nem cem, nem cinquenta, leva por cinco e ainda acrescento este lindíssimo cobertor com um leão bordado a ouro...".

E pelo chão espalham-se ferramentas e um sem-número de objectos, uns mais inesperados do que outros, mas todos à espera do comprador certo. E há gente para tudo, até para meia dúzia de botões forrados que uma jovem guardou, feliz da vida, com o achado daquela tarde.

Reparei que os discos de vinil, aqueles elepês enormes que giravam, antigamente, nos nossos gira-discos, são uma relíquia que vale muito dinheiro. Com capas ou sem capas, desde Pat Boone a Zeca Afonso, de Renato Carosone a Léo Ferré, lá estão, levados por gente nova que, dali saída com algum dinheiro no bolso, irá a correr comprar o último dos "Oasis".

Vi dois bonitos lençóis de linho bordados e enfeitados com a verdadeira renda de bilros e um xaile de seda preta com enormes franjas que custava os olhos da cara, alguma roupa antiga, um ou outro santo de igreja (os santões, esses estão escondidos nas lojas dos antiquários sem que ninguém lhes pergunte a origem...), artesanato pindérico, DVD aos montes, mobílias, conjuntos de sofás em pele falsa, mas com um certo aparato e, resistindo a anos e anos de Feira da Ladra, a loja com artigos da tropa que fizeram furor nos anos sessenta e, ao que parece, continuam a sair em beleza.

Mesmo sem o brilho e o pequeno requinte de outros tempos, a Feira da Ladra vai resistindo e é um enorme centro comercial ao ar livre, onde os lisboetas gostam de se encontrar e de se abastecer a preços módicos. Podendo até levar para casa "um lindíssimo cobertor com um leão bordado a ouro".

Se em vez do leão fosse uma águia, talvez o "lindíssimo cobertor" morasse agora no Campo Grande...»

in Jornal de Notícias

2006/07/06

Once again...
No final do jogo contra os franceses, percebi como os ingleses se sentem em relação a nós, portugueses. Definitivamente, encontrámos a nossa besta. Já cansa ser sempre contra os mesmos e sempre nas meias-finais. Mas isto tem o seu lado positivo: significa que estamos presentes, desde há uma série de anos atrás, nas grandes competições entre países. E, do lado dos adeptos, vejo que o velho hábito de levar material alusivo aos clubes grandes para jogos de Portugal se perdeu completamente. Temos mais força quando, por trás de várias côres, nos unimos por uma só.
Mas na verdade não estava, como nunca estive, confiante na vitória. Precisamente porque o adversário era a França e, embora sendo um pormenor, até as bancadas do Allianz Arena são da mesma côr do Stade de France. Se há adversário que me daria enorme prazer ganhar, em jogos de selecções, eram os franceses. Pela sua natural chauvinice e arrogância complexada. Pelo facto de serem a selecção menos nacional de todas - até causa admiração o Drogba jogar pela Costa do Marfim ou o Essien pelo Gana. Porque nunca fui, ao contrário da maioria, grande admirador do Zidane e queria que ele terminasse a carreira contra Portugal.
Gostei de ouvir os assobios no estádio contra o Cristiano Ronaldo, vindo principalmente dos ingleses - estapafúrdia a forma como o criticam e pouco olham para agressão cobarde de Rooney - sinal da azia que sentem e da forma como ele lidou com essa pressão. Confesso que fiquei apreensivo por causa dos assobios, porque me fizeram lembrar a forma como ele (não) jogou na Luz pelo Man Utd contra o Benfica para a Liga dos Campeões e, principalmente, a forma como reagiu quando foi substituído.
A Itália devia ser proíbida de jogar à bola. Destesto a forma como os italianos encaram o futebol dentro das quatro linhas, é a antítese de como se devia ver e jogar futebol. Ver um jogo do campeonato italiano é um suplício enorme e, porque sou do Benfica, tenho um problema sério por resolver com esses bastardi. Estão-me entaladas as derrotas contra o Inter e Lázio, num passado recente e contra a Juventus e Parma, num passado mais longínquo. Para não falar da final perdida contra o ACMilan em Viena, há mais tempo ainda. Não me esqueço de nenhuma delas, pela forma como ocorreram e, ainda mais, porque em todos esses jogos fomos sempre superiores aos italianos.
Já tinha ficado com essa ideia, e agora depois deste jogo ainda mais: este tem sido o pior Mundial de sempre, com equipas que buscam apenas o resultado e esquecem-se que o futebol deve ser um jogo de ataque e golos. Com uma FIFA cada vez mais interessada no negócio que se gera à volta desta paixão, chegando a impedir a entrada nas bancadas de adeptos que se vestiam com roupa alusiva a uma qualquer empresa que não fosse patrocinadora do Mundial! E nomeando, numa lista para melhor football player, jogadores italianos e franceses que pouco ou nada fizeram neste Mundial para o merecerem. Isto são apenas dois exemplos diferentes mas flagrantes do futebol moderno.
No entanto, por mais moderno que possa ser, a maior virtude que o futebol tem é que dentro das quatro linhas não deixa de representar a aproximação mais perfeita em matéria de justiça (ou falta dela) do que devia ser a sociedade em que vivemos. É justo que o juiz marque uma falta, se ela existir mesmo. E é excelente que essa decisão seja tomada de imediato. As consequências dos actos têm logo efeito e este é o princípio básico deste jogo e que a FIFA jamais poderá mexer. Ao menos isso.
Para mim, há uma imagem que me marca e merece toda a atenção: no final do jogo vejo uma miúda a chorar, que não tinha mais do que seis anos, agarrada a uma camisola da selecção nacional. Tive inveja dela. Daqui por uns anos, vai perceber o que é o verdadeiro futebol moderno...