2007/03/06

O melhor e o pior num minuto de silêncio
A atitude era esperada vindo da bancada de onde veio e, por isso, não me admirou. Comentei até antes do jogo que naquele minuto de silêncio eles iam fazer-se ouvir contra o Benfica. E acho sinceramente que não era preciso ser-se bruxo para adivinhar que isso ia acontecer. Há momentos em que o futebol mostra o que de pior o ser humano tem e este foi um bom exemplo disso mesmo. Mas gostei de ver o resto do estádio a aplaudir nesse minuto de silêncio e percebeu-se bem que era para abafar os insultos vindos do grupo de apoio mais representativo do fêcêpê. Honra lhes seja feita, a atitude dos restantes adeptos foi um bom exemplo do que de melhor o ser humano tem.
O ódio visceral que os líderes desse grupo têm ao Benfica não devia, de modo algum, ser mais forte num momento solene como este. Não sou ninguém para discutir o significado de se ser ultra nem estou para aí virado, porque acho que isto não tem rigorosamente nada a ver com o assunto. Tem apenas a ver com o carácter e o calibre que norteia esse grupo perante o desaparecimento de um jogador que, por acaso, era do Benfica. E é preciso não esquecer que, mais tarde ou mais cedo, isto acontece a todos e se hoje foi um dos nossos a partir, amanhã será um deles. Há tempos atrás, Vítor Damas também partiu de vez e na Luz não houve um único assobio ou insulto a essa grande figura do desporto nacional e do sportém durante o minuto de silêncio.
Mas uma coisa que me deixa estupefacto, é o bater palmas durante esse minuto. Chamam-lhe minuto de silêncio, é preciso explicar alguma coisa? Se no caso dos adeptos do fêcêpê que partiram para uma enorme salva de palmas com o objectivo de se sobrepôrem aos cânticos ofensivos do principal grupo do clube se compreende e é de enaltecer, já o facto de num estádio onde jogava o Benfica o minuto de silêncio ter sido substituído por um minuto de palmas era excusado. As palmas guardam-se para o final desse minuto que, tal como o nome indica, quer-se de silêncio. Quando Miklos Fehér morreu, fez-se um minuto de silêncio excrupulosamente respeitado na Luz ao ponto de se ouvirem os carros na segunda circular. Foi arrepiante.
Assim como é arrepiante o ódio de morte que reina em grande parte daquela bancada de um dos estádios mais bonitos de Portugal. Afinal de contas são só noventa minutos que deviam servir para apoiar, acima de tudo, o clube de cada um de nós. E o facto de se apoiar um clube não tem necessariamente de significar estar contra outro clube qualquer. A não ser quando os dois se encontram para dar uns pontapés na bola.