2005/07/29

«Não sabia que o Benfica tinha tantos adeptos e por toda a Europa. Em Estugarda estavam 4000 adeptos a apoiar-nos, fiquei muito surpreendido».
in 'A Bola'

«Os craques de bicicleta foram sendo aplaudidos pelos muitos adeptos que passavam na estrada e reconheceram o equipamento benfiquista. É praticamente impossível dar dois passos sem tropeçar num português, com grandes probabilidades de ser adepto das cores encarnadas».
in 'A Bola'


«O Benfica é um grande clube, enorme mesmo».
in 'A Bola'

«Estou pensando apenas no Benfica, por isso renovei o meu contrato. Muito se falou, mas eu fiquei e continuo a pensar só no Benfica. E por aqui continuarei, servindo este clube pelo tempo que for preciso».
in 'A Bola'

«Não tenho condições para continuar no Benfica».
in 'SIC'

As primeiras quatro transcrições levam-me para os idos tempos em que os jogadores faziam uma carreira inteira num só clube. Tempos em que se imortalizavam jogadores por honrarem a águia ao peito bordada. Mas, na verdade, foram recentemente ditas por alguns jogadores do Benfica - não interessa quais, hoje em dia é preciso ter cuidado, porque o futebol moderno já nos mostrou que amanhã podem estar a beijar o símbolo dos nossos eternos rivais e a serem ingratos para os adeptos fiéis que sempre os apoiaram. Há algum tempo, bastante por sinal, que não ouvia da boca dos nossos jogadores este tipo de discurso que, embora não me encha de orgulho - esteja bem ou mal, é sempre o mesmo por ser apenas do Benfica - incha o ego: significa que, de alguma forma, sentem o emblema que representam. Como se houvesse nessas palavras uma aproximação a esses tempos de verdadeiro amor à camisola.
A última transcrição nem oferece dúvidas quanto ao seu autor. O que ele fez, mais cedo ou mais tarde, vai-lhe saír caro. É que quase sempre acabamos por dar mais valor às coisas quando as deixamos de ter e ele tem o privilégio de saber bem o que está a deixar para trás. Esse, é o grande pecado dele. Mas um dia, quando nós já não nos lembrarmos dele - porque aparecerão outros no seu lugar - vai dar pela sua falta.

2005/07/21

Fundamentalistas e Intocáveis
Não sei se se recordam, mas há um ano e alguns meses atrás, quando o Miguel renovou com o SLB, houve algumas dúvidas no ar. A renovação dele não foi propriamente um acto espontâneo e mereceu inclusivamente críticas dos DV1982. Para mim, a história começa aí mesmo. Ao contrário de alguns de vocês, eu já não sou fundamentalista. Esses tempos já lá vão, quando o futebol era apenas e só uma bola e onze contra onze de cada lado. Ou, para ser ainda mais genuíno, quando os jogadores eram de 1 a 11 porque o que realmente interessava era o símbolo que estava bordado no peito à altura do coração. Só cá ficava quem verdadeiramente o sentisse, por isso é que se faziam carreiras num só clube e o povo os via como verdadeiros heróis. Esses, desse tempo, é que merecem a minha admiração, pois eram eles, juntamente com o amor que tive, tenho e sempre terei pelo meu Benfica, que me faziam fundamentalista. Agora só tenho uma via e ela baseia-se apenas na águia que pousa por cima do 'E Pluribus Unum', por serem esses os únicos valores que perduram desde 1904. O Miguel tem toda a razão quando diz que não tem condições para continuar no SLB. Parece é que se esqueceu que as condições que ele diz não ter, foram criadas precisamente pela sua atitude de ingratidão para com um símbolo que o elevou a vedeta sem que nada de verdadeiramente brutal tenha feito ao ponto de se sentir intocável. É que intocável, só conheço mesmo duas coisas: DEUS no céu e o BENFICA na terra.

2005/07/18

A nossa Luz não se apaga nunca
Não fui à despedida do velho estádio da Luz e para alguém que tinha passado tantas tardes naquele recinto, que quase era a minha segunda casa na adolescência, estava inconsolável. Parecia que tinham arrancado uma parte de mim. Senti que queriam apagar grande parte da história do Benfica, só pelo facto daquele ser o último passo para a velhinha Luz desaparecer por inteiro. Por isso não me senti capaz de assistir ao programa daquela festa toda que, na verdade, me soava a tudo menos a uma festa. Mas não se pense que eu nunca fui a favor do novo estádio, pelo contrário. Ao lado, mesmo ali ao lado, a nova Catedral estava a nascer. Todos os dias tentava ver imagens e fotos daquela que iria ser a nossa casa. Tantas vezes passei por lá e fiquei a olhar, praticamente impávido, para o estádio que ali se erguia enquanto imaginava as futuras jogadas desenhadas pelas papoilas saltitantes e os golos festejados pelo maralhal. E quando começou a ganhar uma forma mais definida, revi-me no antigo estádio. O betão à mostra, não sendo muito atractivo, tem tudo a ver com o outro que também era assim. A curvatura do antigo terceiro anel transposta para todas as bancadas do novo estádio, parecia-me um sinal que iria reencontrar o Inferno da Luz. O pormenor de ter de descer pela bancada no primeiro piso é em tudo idêntico ao que acontecia também no estádio antigo. Os pavilhões das outras modalidades, lado a lado com a nova Catedral, tal como dantes, perspectivava uma união da identidade e força benfiquistas. Senti-me, verdadeiramente, mais descansado com todas as semelhanças entre o velho e o novo. Até o próprio nome, passados mais de 50 anos após a inauguração do antigo estádio, é exactamente o mesmo. Acabei por não estranhar a mudança que, normalmente, é um factor de resistência à evolução. E muito mais descansado fiquei quando entrei pela primeira vez na nova Luz no dia da sua inauguração e vi a imponência daquele recinto visto por dentro. Parecia que tinha entrado numa nova dimensão. Ali cheirava-me a campeão. O que se veio a concretizar, pois no final do centenário conquistámos esse estatuto pela 31ª vez na nossa história. No entanto, confesso que as saudades permanecem. Que a nostalgia se apodera de mim quando me lembro do que vivi e aprendi na antiga Luz. Que foi nela que nasci para a bola. E que não é nela que, um dia, irei dizer adeus a este mundo.
Agora até se fala em vender o nome do estádio. E lá caímos na eterna luta contra o futebol moderno. Mas para mim, essa luta vê-se acima de tudo, no desrespeito a que os adeptos estão sujeitos por terem de pagar exorbitâncias por um bilhete a horas desinteressantes. Porque isso afasta o povo da bola e das bancadas a que sempre tiveram direito desde sempre. Se me dissessem que iam vender o nome do estádio para não aumentar o preço dos bilhetes e chamar o povo à bola, não me fazia confusão nenhuma. Era bem capaz de ser um motivo justificado, mas todos sabemos que não é para isso. E, a verdade, é que nunca o Estádio do Sport Lisboa e Benfica foi tratado assim, pelo seu próprio nome. Para nós, sempre foi o Estádio da Luz. Até mesmo na Europa e no Mundo, é o Estádio da Luz. E se quiserem mesmo vender o nome, vai continuar a ser à mesma o Estádio da Luz. Por uma razão muito simples: foram os nossos avós que deram este nome mítico a um estádio que ficou na história e, por isso, o tratamos assim e continuamos a fazê-lo por força do mito criado à sua volta. Porque, como diz o título de um conhecido livro, 'a Luz nunca se apaga'.
Lembro-me numa quarta-feira europeia de chegar a casa, depois de ter estado no estádio a assistir à meia-final da antiga Taça dos Campeões Europeus entre o Benfica e o Marselha, e a minha preocupação foi ir a correr para a sala ligar a televisão na Eurosport para ver o resumo do jogo. A imagem do golo de Vata com a mão - que ainda hoje provoca celeuma nos marselheses - a escassos minutos do fim do encontro no estádio da Luz completamente apinhado com mais de cento e vinte mil pessoas a festejarem brutalmente é qualquer coisa que eu aconselhava a ver e a rever vezes sem conta. É de ficar paralisado, como se tudo à nossa volta deixasse de existir e nada mais importasse. Só quando vi essas imagens é que me apercebi da brutalidade do momento, da intensidade do ambiente e da carga emotiva por que todas aquelas almas passaram no estádio por causa daquele golo. Mas o que mais me tocou foi a descrição do jornalista inglês que dizia em tom emocionado, enquanto essas imagens da Luz em explosão passavam no ecran: 'that´s incredible... it´s an amazing ambient... only being there to feel what i´m trying to say!'. Ouvir isto da boca de um estrangeiro é uma coisa que enche o ego a qualquer adepto benfiquista. Há coisas que não se conseguem explicar nem descrever. Sentem-se apenas. E eu lembro-me bem disso como se fosse hoje. De tal modo que, depois dele ter dito tão pouco e ao mesmo tempo tanto, a imagem que apareceu a seguir foi a de uma tocha acesa no 3º anel. É por estas e por outras que, mesmo que a queiram vender, a nossa Luz não se apaga nunca...

2005/07/14

Quase sempre presente
As próximas linhas foram escritas num blog em que se falava, de forma geral, do estado do nosso país. Quando as li, revi-me na minha infância e revivi alguns momentos dessa vida. Há coisas que quase nos esquecemos delas mas, de tão simples e inocentes que são, acabam por ter um significado que só é mensurável pela sensação nostálgica que provoca. E quando assim é, não merecem ser lidas, merecem ser relidas.
"Tenho orgulho no meu país, não pelo seu estado actual (obviamente) mas por todas aquelas sensações que ele me porpocionou na infância.
Tenho orgulho em ter brincado com os meus vizinhos na rua até às tantas sem que os meus pais se preocupassem se poderiamos ser assaltados ou não. No máximo, a preocupação deles era se partiamos um braço ou uma perna nas nossas divertidas brincadeiras.
Tenho orgulho em ter podido correr nos corredores dos hipermercados sem que os meus pais tivessem medo que me roubassem.
Tenho orgulho em ter tirado a minha carta de condução sem ter medo que um dia mais tarde, numa discussão de trânsito, alguém me desse um tiro nos cornos.
Tenho orgulho em ter ido à praia na minha adolescência, com o meu grupo de amigos, e podermos deixar as coisas na areia e ir tomar banho porque sabiamos que quando chegassemos estaria exactamente tudo no mesmo sitio...
E faço questão que as crianças de hoje em dia venham a ter orgulho em todas essas coisas também.
(...)
Fazendo uma comparação com a vida clubística, passa-se o mesmo. O meu clube pode não ser o melhor, pode não ter os melhores dirigentes ou os melhores jogadores, mas é o meu clube e tenho orgulho nele, por todo o passado de história que tem e porque quem faz o clube são os seus adeptos."
Apetece-me dizer que quando queremos arranjar um termo de comparação para bastas situações que vivemos, recorremos muitas vezes ao futebol. E chegamos à conclusão que ele, sem querer, está quase sempre presente nas nossas vidas...

2005/07/08

Por mérito próprio, dez anos depois
"A águia ignora soberbamente os leões. Quarta-feira, no estádio da Luz, ninguém comemorava a eliminação do Sporting. Nem para brincar nem para se satisfazer"

- Reportagem do 'France Football' sobre os dois grandes clubes de Lisboa.


"A perspectiva de disputar os quartos de final da Liga dos Campeões torna-se clara. O que é o mínimo para um clube desta categoria. E não passa de um sonho para o seu pobre vizinho..."

- Ibidem.


Há dias estava a fazer uma arrumação às minhas gavetas e encontrei alguns recortes de jornais com mais de dez anos. Transcrevi estes dois uma vez que, tendo sido escrito pela imprensa estrangeira, acabam por ter mais força ao revelar a grandeza do nosso símbolo como é visto lá fora. E passados estes anos todos, voltar a ler estas preciosidades alimenta a vontade de honrarmos a história do Benfica na maior prova europeia de onde nunca devíamos ter saído. Agora estamos de volta, por direito e mérito próprios. Mas o mais delicioso é a forma como comparam o nosso clube aquele que também mora na 2ª circular...