2005/07/18

A nossa Luz não se apaga nunca
Não fui à despedida do velho estádio da Luz e para alguém que tinha passado tantas tardes naquele recinto, que quase era a minha segunda casa na adolescência, estava inconsolável. Parecia que tinham arrancado uma parte de mim. Senti que queriam apagar grande parte da história do Benfica, só pelo facto daquele ser o último passo para a velhinha Luz desaparecer por inteiro. Por isso não me senti capaz de assistir ao programa daquela festa toda que, na verdade, me soava a tudo menos a uma festa. Mas não se pense que eu nunca fui a favor do novo estádio, pelo contrário. Ao lado, mesmo ali ao lado, a nova Catedral estava a nascer. Todos os dias tentava ver imagens e fotos daquela que iria ser a nossa casa. Tantas vezes passei por lá e fiquei a olhar, praticamente impávido, para o estádio que ali se erguia enquanto imaginava as futuras jogadas desenhadas pelas papoilas saltitantes e os golos festejados pelo maralhal. E quando começou a ganhar uma forma mais definida, revi-me no antigo estádio. O betão à mostra, não sendo muito atractivo, tem tudo a ver com o outro que também era assim. A curvatura do antigo terceiro anel transposta para todas as bancadas do novo estádio, parecia-me um sinal que iria reencontrar o Inferno da Luz. O pormenor de ter de descer pela bancada no primeiro piso é em tudo idêntico ao que acontecia também no estádio antigo. Os pavilhões das outras modalidades, lado a lado com a nova Catedral, tal como dantes, perspectivava uma união da identidade e força benfiquistas. Senti-me, verdadeiramente, mais descansado com todas as semelhanças entre o velho e o novo. Até o próprio nome, passados mais de 50 anos após a inauguração do antigo estádio, é exactamente o mesmo. Acabei por não estranhar a mudança que, normalmente, é um factor de resistência à evolução. E muito mais descansado fiquei quando entrei pela primeira vez na nova Luz no dia da sua inauguração e vi a imponência daquele recinto visto por dentro. Parecia que tinha entrado numa nova dimensão. Ali cheirava-me a campeão. O que se veio a concretizar, pois no final do centenário conquistámos esse estatuto pela 31ª vez na nossa história. No entanto, confesso que as saudades permanecem. Que a nostalgia se apodera de mim quando me lembro do que vivi e aprendi na antiga Luz. Que foi nela que nasci para a bola. E que não é nela que, um dia, irei dizer adeus a este mundo.
Agora até se fala em vender o nome do estádio. E lá caímos na eterna luta contra o futebol moderno. Mas para mim, essa luta vê-se acima de tudo, no desrespeito a que os adeptos estão sujeitos por terem de pagar exorbitâncias por um bilhete a horas desinteressantes. Porque isso afasta o povo da bola e das bancadas a que sempre tiveram direito desde sempre. Se me dissessem que iam vender o nome do estádio para não aumentar o preço dos bilhetes e chamar o povo à bola, não me fazia confusão nenhuma. Era bem capaz de ser um motivo justificado, mas todos sabemos que não é para isso. E, a verdade, é que nunca o Estádio do Sport Lisboa e Benfica foi tratado assim, pelo seu próprio nome. Para nós, sempre foi o Estádio da Luz. Até mesmo na Europa e no Mundo, é o Estádio da Luz. E se quiserem mesmo vender o nome, vai continuar a ser à mesma o Estádio da Luz. Por uma razão muito simples: foram os nossos avós que deram este nome mítico a um estádio que ficou na história e, por isso, o tratamos assim e continuamos a fazê-lo por força do mito criado à sua volta. Porque, como diz o título de um conhecido livro, 'a Luz nunca se apaga'.
Lembro-me numa quarta-feira europeia de chegar a casa, depois de ter estado no estádio a assistir à meia-final da antiga Taça dos Campeões Europeus entre o Benfica e o Marselha, e a minha preocupação foi ir a correr para a sala ligar a televisão na Eurosport para ver o resumo do jogo. A imagem do golo de Vata com a mão - que ainda hoje provoca celeuma nos marselheses - a escassos minutos do fim do encontro no estádio da Luz completamente apinhado com mais de cento e vinte mil pessoas a festejarem brutalmente é qualquer coisa que eu aconselhava a ver e a rever vezes sem conta. É de ficar paralisado, como se tudo à nossa volta deixasse de existir e nada mais importasse. Só quando vi essas imagens é que me apercebi da brutalidade do momento, da intensidade do ambiente e da carga emotiva por que todas aquelas almas passaram no estádio por causa daquele golo. Mas o que mais me tocou foi a descrição do jornalista inglês que dizia em tom emocionado, enquanto essas imagens da Luz em explosão passavam no ecran: 'that´s incredible... it´s an amazing ambient... only being there to feel what i´m trying to say!'. Ouvir isto da boca de um estrangeiro é uma coisa que enche o ego a qualquer adepto benfiquista. Há coisas que não se conseguem explicar nem descrever. Sentem-se apenas. E eu lembro-me bem disso como se fosse hoje. De tal modo que, depois dele ter dito tão pouco e ao mesmo tempo tanto, a imagem que apareceu a seguir foi a de uma tocha acesa no 3º anel. É por estas e por outras que, mesmo que a queiram vender, a nossa Luz não se apaga nunca...

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Belo texto !! ;)
Que grandes memórias do antigo Estádio da Luz...
Continua a escrever...tens aqui um belo blog !!

12:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Esse livro que tu falas "A luz nao se apaga" ja p li e reli e o emlhor de tudo é ter la estado a viver essas emoçoes...no benfica- marselha nao estive la...mas tive um momento na antiga luz que nao amis vou esquecer...foi na meia final da extinta taça das taças o benfica jogava com o parma...estadio cheio...no aquecimento da equipa aparece no ecran gigante que o nosso rui costa faz anos...eram 120 mil a cantar os parabens...foi indiscritivel...tanto para ele como para quem la esteve...nesse dia so foi pena o penalty falahdo pela Paneira...

7:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tambem estive nesse mágico jogo com o Parma , foi lindo . Adorei o blog , só acho que poderias tentar (não sei se dá) por as letras um poco maiores , para nao esforçarmos tanto a vista . Vou-te adicionar .
www.ultrascervejaseviagens.blogspot.com

4:36 da tarde  
Blogger GR1904 said...

São mesmo esse tipo de memórias que nos fazem arrepiar qd nos lembramos de certos momentos vividos no estádio da Luz. E são esses momentos que guardamos cá dentro como se de um tesouro se tratasse que fazem com que a nossa Luz nunca se apague nunca. Ela é eterna...

Quanto à sugestão de pôr a letra um pouco maior, já pensei nisso mas os posts ficariam muito extensos. Talvez se mudar o tipo de letra as coisas melhorem, quando tiver paciência, vejo isso. Obrigado por adicionares o blog.

Nunca Caminharás Sozinho!

3:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bom o teu texto. Parabéns.
Gostava era de ter o texto escrito por um jornalista françês, sobe esse jogo mágico no estádio da Luz.
Benfica vs Marselha. Eu só li esse texto uma vez num jornal e é algo de magnifico, pois é um françês a falar do inferno da Luz.
se tiveres esse texto podias enviar?
já procurei na net toda e não encontrei.

Nuno.

nuimalx@sapo.pt

6:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ps - desculpa o meu email é

nurimalx@sapo.pt


nuno

6:04 da tarde  
Blogger Pedro Pinto said...

Este comentário foi removido pelo autor.

12:45 da manhã  
Blogger Pedro Pinto said...

A Mística do Benfica

Um peça da TVI baseada no texto do jornalista francês que visitou o Estádio da Luz em 1990, aquando do jogo Benfica - Marselha para a segunda mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus.

www.youtube.com/watch?v=hdEiPXi2yfc

12:51 da manhã  

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