2007/04/18

O que eu queria e não queria
O que eu queria era uma equipa treinada com método para que as coisas saissem bem e não uma equipa treinada com base na fé e na crença em que as coisas saiam bem.
O que eu queria era uma direcção que levantasse a voz para defender o clube quando, sem qualquer razão, nos atingem com arbitragens de colo e não um presidente que levanta a voz para se defender de uma suspensão pessoal.
O que eu queria era um Conselho Nacional Anti Dopagem que fosse coerente em todas as circunstâncias e não um CNAD que arquiva processos em função da côr do doping.
O que eu queria era uma polícia que se responsabilizasse pela sua própria incompetência e não uma autoridade que se desresponsabiliza à Luz dos acontecimentos.
O que eu queria era que os grupos de apoio fizessem da luta contra o futebol moderno uma verdadeira atitude e não uma mera frase feita, muitas vezes até vendida de forma mercantil.
O que eu queria era ver a direcção do Benfica a autorizar o que entra e não entra no estádio da Luz em todos os jogos e não a polícia a fazê-lo discricionariamente como forma de retaliação desde que ouviram críticas do nosso presidente.
O que eu queria era ver o Benfica com dois grupos de força idêntica e não um muito mais poderoso que o outro.
O que eu queria era uma direcção que não desbaratasse o plantel a meio da época e não uma direcção que exige constantemente mais e mais dos sócios.
O que eu queria era ter tido, mais cedo, a ideia de pôr o pano no sítio onde tem estado ultimamente e não deixá-lo guardado em casa por impedimento da publicidade quando há jogo na Luz.
Até quando?

2007/04/02

Recentemente, adeptos de equipas europeias ficaram no piso 3 da Luz, em muito maior número e sem medidas de segurança a fazer lembrar a faixa de Gaza. Liverpool, Man Utd, Celtic, Barcelona e PSG. Cantaram e alguns até abriram tochas. Mas ninguém viu problemas.
No domingo, adeptos do fêcêpê ficaram no piso 3 da Luz rodeados de polícia, stewards e mangas de plástico a limitar esse sector. Cantaram, mas só quando estavam a ganhar. Devem ter sido os únicos momentos em que viram alguma coisa do jogo. Porque o resto do tempo, passaram-no a lançar petardos, cadeiras e outros que mais. Gostam de problemas. Têm mesmo prazer em arranjá-los. É para isto que um gajo vai à bola?
Ao contrário da maioria, eu concordei com a localização dos tripeiros lá em cima. No fundo, foram tratados ao nível dos grandes liverdpulians e dos celtics. Sintam-se, por isso, sortudos. Simplesmente não souberam estar à altura destes. Aceito o argumento que era uma localização problemática, ficarem no piso 3, mas o cerne de toda a questão é apenas e só o comportamento de certos adeptos. Porque ninguém me convence que se ficassem no piso 0, não haveria petardos nem cadeiras a voar. Tanto havia que já houve o ano passado. Ou o comportamento desses adeptos varia consoante o local do estádio onde ficam? Poupem-me.
Por isto tudo, acho que os dirigentes do Benfica têm toda a legitimidade do mundo, da próxima vez que houver clássico na Luz, em não ceder um bilhete. E não me venham com o mais do que gasto "sem adeptos rivais clássico não é clássico". Até pode ser verdade. Mas tem de ser enquadrado dentro de um comportamento que não roce a violência. Com cânticos de incentivo. Eventualmente com tochas e fumarada. Mas nunca com o intuito de ferir adeptos deliberadamente só porque são de um clube diferente. E foi isso que eles fizeram, cobardemente.
Há uma lei, tantas vezes apelidada de repressiva para os adeptos, mas que praticamente nunca foi aplicada. A lei 16/2004 devia mesmo servir para estes casos. Há câmaras por todo o estádio e a maioria, como não é de admirar, está direcionada para os grupos de apoio. Só não identificam os responsáveis se não quiserem. É assim que há centenas de difidati em Itália e França, por exemplo. Por mandar umas caralhadas no célebre jogo dos 3-3 da Taça de Portugal contra os lagartos, não vi metade do jogo e fiquei cadastrado. Há quem mande petardos e cadeiras, apareça na tv, e o máximo que lhes acontece é terem de mostrar o BI. E por falar em lagartos, nesse mesmo jogo, havia muitos adeptos de grupos ultras do sportém no piso 3. Alguém deu conta de problemas destes?
A rivalidade é o sal do futebol, estou farto de dizer isto. Haver discussões e picardias, é normal, mas dentro do limite do bom senso. E, por essa via, há algumas formas inteligentes de mostrar o nosso fervor clubístico e nenhuma delas passa pela violência. Seja de quem for.
No meio disto tudo, a entrada em campo das equipas com o estádio todo coberto de cartolinas ao som do Ser Benfiquista foi qualquer coisa do outro mundo. É um hino brutal, havia ali qualquer coisa no ar e naquele ambiente.