2007/02/14

Não há outro amor como este que sempre e por muito que nos faça sofrer, continuamos a querer estar incondicionalmente com ele. Porque mesmo que fique decepcionado, sei que não vai fazer vacilar o meu fervor. Porque mesmo que fique triste, sei que não vai fazer pender o que sinto. Porque mesmo que fique chateado, sei que não me vai fazer perder o orgulho.
Assim como nasci lampião, há talvez apenas mais uma absoluta certeza na minha vida: que um dia hei-de, também, morrer lampião. Tudo o resto, são dúvidas e meias-certezas que, para o bem e para o mal, não dependem só de nós próprios. E, por isso, estão sempre sujeitas a mudar por qualquer razão.
É curioso que nesta data, completamente rendida ao consumismo, vou ver e estar com o único amor que eu sei que me irá acompanhar invariavelmente até ao último dia da minha vida, tal como eu a ele. Acho que todos os 14 de Fevereiro deviam ser dia de bola.

2007/02/09

O Passado e o Presente
por NF, um Rapaz da Sul
Depois do que se passou há dias em Italia tenho lido, falado e ouvido muita coisa sobre a violência no futebol. E a razão de em Itália ser frequente todos os fins de semana e a questão pela qual as coisas em Portugal andam quase sempre tão controladas, acabam sempre por vir ao de cima.
Mas a razão é simples. Os grupos e curvas em Portugal são muitíssimo mais pequenos do que em Itália, o que por si só é uma grande ajuda para a polícia que assim vê a tarefa de controlar as claques bastante facilitada. Contudo, a polícia não está em todo o lado. Então porque não se vêem grandes confrontos como se viam nos anos quentes (leia-se entre 92 e 95/96)? A malta continua a ir à bola, continuam a estar presentes milhares de elementos de certos grupos nos estádios. Qual é a grande razão no meio de tudo?
A mentalidade do pessoal. Antigamente andava praticamente tudo de transportes, o que deu origem a estórias e a enormes confrontos nos mais diversos locais: Terreiro do Paço, Cais do Sodré, barcos do Barreiro e Almada, o Metro de Lisboa, a Linha de Sintra, existem 1001 locais que ficava aqui o dia todo a enumerar, mas acho que já perceberam a ideia.
Dantes existia uma linha de pensamento na qual o pessoal se identificava e de certeza que quem ler isto e for daqueles tempos irá, nem que seja em parte, concordar comigo. Naquela altura a ideia do pessoal quando ia para a bola era muito simples: Se houver merda, há. Coisa que acontecia muitas vezes, já que andava maioritariamente tudo de transportes, o que facilitava em muito o encontro de claques de clubes rivais e acreditem que quando não bastava avistarem-se uns aos outros para se iniciar a "batalha", bastava umas quantas palavras de parte a parte para começar tudo a correr de um lado para o outro.
Muitos devem-se estar a perguntar: e a polícia não fazia nada? A polícia antigamente não estava tão bem preparada e informada em relação às claques como está hoje em dia, em que existem unidades especializadas e até infiltradas nos grupos de apoio. E quando apareciam, já a malta tinha desaparecido há muito. Antigamente, acreditem ou não, a malta fazia-se com muito mais facilidade à polícia, não só porque não andavam com as protecções com que andam hoje em dia - parecem uns autênticos robocops - mas também porque a malta andava na linha de pensamento que eu já referi antes, ou seja, só fazia merda, mas nada a ver com o vandalismo que se assiste muitas vezes nos tempos que correm.
Hoje em dia, a polícia anda sempre em cima das claques, já sabem como se movimentam e conhecem os principais pontos de passagem para os estádios, o que faz com que em certos locais esteja várias vezes um grande número de policiais para evitar confusões entre grupos rivais. Mais, actualmente as deslocações fora das claques, principalmente em jogos grandes, é preparada ao pormenor com os responsáveis policiais que as acompanham em grande aparato e escolta até aos estádios. Além disso há agora os supporters psp, perdão spotters, e ninguém sabia o que era isso sequer...
Outra coisa que faz com que cá em Portugal não haja muitos confrontos é o facto de hoje em dia muito do pessoal andar de carro. Já são muito poucos aqueles que vão de transportes públicos para a bola e os que o fazem já não vão à maluca como se fazia antigamente. Perdeu-se um pouco o espírito de ir com os amigos de transportes para a bola e fazer da própria viagem um complemento da bola que, por si só, às vezes já valia a pena. Só o subir a Rua Augusta até ao metro do Rossio ou até mesmo aos Restauradores era diferente, tudo junto e na maior parte das vezes a cantar, fossemos 20 ou 200 era viver-se aquilo com uma alegria que hoje acho que já se perdeu na malta nova, em grande parte por culpa de malta como eu que não deu continuidade às velhas tradições. Os tempos mudam e infelizmente tambem nós mudamos. O facto de grande parte dos elementos dos grupos andarem de carro evita que hajam muitos confrontos e os que porventura acontecem são todos com um pequeno número de elementos, não é como certas estórias que eu vivi no Terreiro do Paço em que chegavam a estar envolvidos perto de 150/200 malucos à mocada.
Hoje em dia, a própria malta evita muitas vezes meter-se em confusões, não só porque já são mais velhos e têm família e, consequentemente, responsabilidades mas também por receio de ser preso ou identificado, o que pode ter consequências pessoais e profissionais. Sejam novos ou velhos já não é como antigamente que se lançavam à aventura. Hoje funciona tudo mais na base da "garganta", muito por culpa da massificação da internet, mas depois na hora H ninguém aparece. Ainda assim, em certas ocasiões, já vi a polícia evitar grandes confrontos comparáveis aos de antigamente, a única diferença - e só por isso dá para ver que em Portugal não podem haver confrontos como os que existem em Itália - é que os senhores do cacetete aparecem logo e à mínima coisa é logo ao tiro para o ar e bala de borracha contra a malta. Nestas condições é impossivel acontecer seja o que for porque a polícia tem tudo controlado, a menos que seja apanhada desprevenida, coisa que acontece de vez em quando mas é muito raro e acredito que cada vez vá ser mais difícil haver confrontos entre grupos.
Outra coisa que também me faz um pouco de confusão, é o facto da polícia em Itália ser muito passiva ao contrario da nossa. Alguma vez a nossa polícia ia permitir que os confrontos escalassem ao nível do que se passou na Sicília recentemente e em tantas outras ocasiões em terras transalpinas? É que nem pensar. A nossa, ao mínimo problema, varrem uma bancada quanto mais deixar que se chegasse ao ponto de andar tudo à pedrada. Gostava de ver a polícia italiana cá durante um mês e a policia portuguesa lá no mesmo período de tempo. Provavelmente isto cá em Portugal explodia e em Itália se calhar acalmava um pouco. Ou então não, mas que era uma experiência curiosa, lá isso era. Alguém que lhes faça uma proposta!
Aqui fica um pouco a minha imagem do passado e do presente, sei que podia ter explorado diversos temas de maneira mais extensiva mas não me quis alongar mais, que ainda assim ficou bastante grande. Fica, quem sabe, para uma próxima vez.
- Este texto é da autoria de um adepto benfiquista que frequenta a curva sul da Luz praticamente desde a sua fundação e que tem, por isso, uma visão comparativa com conhecimento de causa deste tipo de situações, entre o que era há uns anos e o que é hoje em dia. E, acima de tudo, poderá ser um ponto de partida para alguns pensarem no caminho que os grupos de apoio poderão trilhar, com os exemplos que nos chegam de fora.

2007/02/06

Quando o desespero se transforma em honra
Aos dezoito minutos da primeira parte, Nuno Gomes e Anderson falham o golo duplamente e a escassos centímetros da linha de baliza. Esta dupla oportunidade e a incredulidade por tamanho falhanço, levaram-me a comentar:

Se esta bola não entrou, não entra mais nenhuma.

Houve quem concordasse comigo, face ao que se tinha acabado de passar no relvado. E houve quem não quisesse sequer pensar em perder pontos. A verdade é que o que se passou a seguir, para mal dos nossos pecados, foi reforçando a minha ideia. Quatro bolas no poste, golos falhados em frente à baliza e oportunidades que davam para ganhar os próximos jogos com goleadas.

Nunca um jogo me pareceu tão injusto como este. Nunca o desespero me fez levantar tantas vezes da cadeira ao ver tantos e clamorosos falhanços no relvado. E, no final, aquela sensação que houvesse mais noventa minutos para jogar e a bola não entrava na baliza. Mas fiquei, também, com a sensação que os jogadores suaram a camisola e tudo fizeram para chegar à vitória. Foram honrados. E honraram, também, quem os apoiou do princípio ao fim. Com um grande ambiente no estádio e o Inferno quase ali ao lado. Quem me dera que fosse sempre assim.