2006/10/25

Enquanto se assiste ao festival do costume dentro e fora das bancadas - que não as dos grupos de apoio, diga-se de passagem - tão característico dos habituais intervenientes desportivos em Portugal, prefiro olhar para alguns exemplos que vêm de fora. Não tenho paciência para estes dirigentes. Não tenho pachorra para as guerras pessoais, muitas vezes compradas, de verdadeiros hooligans de fato e gravata (seja com nó simples ou de Windsor) que passam impunes como virgens no altar. E não tenho pena que assim seja, pela maioria dos adeptos que adoram e ajudam a comprar estas guerras pessoais. Tenho, sim, pena dos verdadeiros. Dos que só querem saber da bola e do onze contra onze em campo. Dos que renegam esta maneira de estar no futebol, mediatizada por uma comunicação social que a fomenta e apenas se interessa pelo sensacionalismo e especulação. Fazia mesmo falta um O Independente neste meio podre sem valores.

É impressionante que nos dias que antecederam um clássico entre lagartos e tripeiros, o alvo principal tenha sido o Benfica. Entre eles, ninguém ouviu ou leu nada. Mas connosco, tudo se passa. É impressionante como se inaugura uma casa do fêcêpê em Setúbal e fala-se do plantel do Benfica e das suas contas. É impressionante - e tradição, já agora - como num clássico entre verdes e azuis se entoa um cântico anti-Benfica por todos os grupos de apoio aparentemente rivais presentes no estádio. É impressionante como se consegue prejudicar o Benfica, expulsando um jogador fundamental na manobra da equipa, em vésperas de visitarmos o Dragão e sem que ele tenha cometido sequer uma falta.
Mas também é impressionante como se pode chegar ao ponto de se esquecer de pedir os bilhetes para o jogo contra o fêcêpê no estádio deles. É impressionante como se compra uma guerra sob a égide de um símbolo mas que apenas tem interesses pessoais. Ninguém me convence que isto não foi premeditado porque para um jogo destes não se espera que o prazo comece a contar para pedir os bilhetes a que temos direito. Pede-se logo e não se fala mais no assunto. E, mais uma vez, quem sai prejudicado são os verdadeiros. Os que querem estar presentes para verem o seu clube de sempre. E eles não pedem nada em troca, nunca pedem. Apenas querem lá estar com o Benfica. Depois, vemos dirigentes que nem se dignam a ir ao estádio adversário, deixando a equipa e aqueles que conseguirão apoiar o clube entregues à sorte alheia. Digam o que disserem, este símbolo merecia muito mais que isto.
Quanto aos exemplos que vêm de fora, não é preciso ir muito longe. Vi num fórum de adeptos do Celtic que têm planos para fazer um pano com a camisola do Benfica para mostrá-la no Estádio da Luz aquando do próximo jogo para a champions. Se até aqui a coisa já merece algum respeito - não acredito que pudessem fazer alguma provocação com o pano - o que dizer do facto da camisola ter o número 29, o nome Miklos Feher e a mítica inscrição traduzida para português - embora literalmente à letra - Nunca Andarás Sozinho? Seria, quase de certeza, a maior homenagem que já teria assistido por parte de adeptos estrangeiros em plena Luz. Espero sinceramente que isso se concretize e que consigam mesmo fazê-lo, pois iriam merecer o meu maior respeito e admiração. Meu e do estádio inteiro. É curioso como num espaço de menos de um ano, os celtics se juntam aos liverdpulians no meu imaginário real dos melhores adeptos de futebol. Seja no apoio que prestam à sua equipa na bancada - coincidência serem os dois que historicamente pegam no YNWA - como no respeito que fazem por merecer pelas atitudes e maneiras de estar fora delas. Adeptos assim há poucos. Dirigentes, nenhuns. Ainda há dúvidas de quem é o futebol?

2006/10/18

Sem saber com o que contar
Isto ainda está muito a quente. E ao mesmo tempo muito frio. Fiquei com a sensação que podíamos ter ganho o jogo, não fosse uma série de atenuantes que, apetece-me dizer, quase só acontecem ao Benfica. Mas ao mesmo tempo fiquei com a certeza que, este ano, a Champions já era. Há por aí um estandarte qualquer que faz uma conjugação engraçada com rennies e hoje, desenvergonhadamente, bem que me davam jeito. É grande a azia, já não sentia uma destas... não me lembro! Sim, estou lixado. Muito lixado. E este ano já não é a primeira vez que me sinto assim com o Benfica. Saí de Leiria com a barriga cheia e agora isto. Saí de Leiria com a sensação que tínhamos entrado no bom caminho. E agora este descalabro britânico pintado a verde e branco. Este ano não sei o que contar deste Benfica. Quando perde, é sempre por três secos. E quando ganha, ultimamente até tem sido por quatro. Fico sem saber se me deixe seduzir ou se fique de pé atrás. Um desconsolo, portanto...
Mas falando especificamente do jogo no Celtic Park. Não desgostei de ver o Benfica que controlou toda a primeira parte quando podíamos até ter marcado e ficar em vantagem. O Celtic é uma equipa que dá gosto jogar pelo tipo de futebol simples e eficaz que produz, com jogadas ao primeiro toque. Mas tornou-se muito óbvia a diferença técnica entre as duas equipas com clara vantagem para o Benfica. Os escoceses marcam um golo de pura sorte com a bola às três tabelas logo depois do nosso clube ter marcado um livre que calou a parte católica de Glasgow. Gostava de ter sabido como seriam as coisas caso esse livre tivesse resultado em golo. Os celtics marcam outro golo claramente contra a corrente do jogo depois do nosso clube ter mandado uma bola à trave. Gostava de ter sabido como seriam as coisas caso essa bola tivesse entrado na baliza. Os de verde marcaram ainda outro golo com a bola a caprichar na relva para saltar sobre a defesa e o keeper do Benfica. Gostava de ter sabido como seriam as coisas caso essa bola não tivesse sido sortudamente rematada da forma que foi.
Continuo sem perceber a mania que os treinadores que passam na Luz têm em alterar um pouco que seja da equipa quando ela está bem, por razões que não fazem sentido e em função da equipa adversária que neste caso até era, e é, inferior ao Benfica. Se o Nélson não jogou porque tem estatura baixa, então o que faz o Léo na defensiva esquerda? Não é um argumento coerente nem me convence, principalmente quando a alternativa dá pelo nome Alcides que em sete vezes que centrou a bola, nenhuma delas chegou em condições e outras nem chegaram sequer. Pela mesma ordem de ideias o Miccoli não teria jogado de início, mas sim o mexicano por quem o Veiga pagou uns milhões quando, a julgar pelo que se diz na terra dos aztecas, não devia ter pago nada porque estava em fim de contrato. Mas isto, sou eu e o eterno treinador de bancada que existe em cada um de nós.
Não estou a arranjar desculpas. Já disse e repito que deste Benfica não sei com o que posso contar. Mas sei que pode contar comigo. Comigo e com os meus, uns mais do que outros, porque aquele símbolo e o 'E Pluribus Unum' não se esgotam num bordado nas camisolas berrantes. Mas, com sinceridade, não acredito. Comparo com o périplo do ano passado e vejo uma equipa que não se controla quando está em desvantagem. Pode jogar melhor, e acho que joga melhor do que no tempo do Koeman, mas falta-lhe alguma personalidade. Curiosamente, teve-a, até muito mais do que com o holandês, em Leiria. Mas na Champions tem faltado o toque que nos elevou e levou ao patamar dos bons velhos tempos europeus da Luz.
Mas lixado lixado, é saber que esta equipa tem condições para isso e não consegue. Sentir raiva por perder com três golos que não traduzem nada o que se passou em campo, sabendo que o que fica para a história é esse resultado. E, acima de tudo, saber que podia ser tudo tão diferente por uma questão de sorte. Ou, se calhar, vi um jogo diferente e ainda não quero acreditar.

2006/10/06

Esta uefa que eu odeio
Pode ser um rival do Benfica este ano na champions. Podem até vestir de verde e branco e, pior que isso, podem até ser às riscas. Podem, de alguma forma, fazer alguma confusão com aquelas camisolas tão parecidas com os nossos rivais de Lisboa. Podem ser escoceses e não se perceber grande parte do que dizem com a pronúncia tão acentuada. Podem até ter deixado os nosso rivais do Porto ganhar a taça uefa na final que jogaram com eles. Mas quando soube que a propotente administração da uefa proibíu que o hino do Celtic fosse tocado antes do início dos jogos da liga dos campeões não posso deixar de ignorar o que isso significa para os supporters de Parkhead. Há trinta anos que o YNWA é entoado pelo estádio inteiro quando os jogadores entram em campo. Não sei se em Liverpool este hino é entoado há mais tempo ou não, apesar da frase You´ll Never Walk Alone estar inscrita no próprio símbolo do clube, ao contrário do que acontece com o emblema do clube escocês. Mas sei que nem celtics nem liverdpulians cedem quando se trata de discutir qual dos clubes teve a originalidade de pôr este cântico nas bancadas, tornando-se um verdadeiro hino e, mais do que isso, um mito para os adeptos que seguem e dão mais atenção ao mundo do supporting. E também sei que o conheci em Anfield Road há muitos anos atrás, sendo uma das razões por que nutro grande admiração pelo Liverpool. Mais tarde, passei a saber que faziam o mesmo em Parkhead, vi alguns vídeos e arrepiava-me cada vez que o ouvia entoado como se de uma serenata se tratasse ao mesmo tempo que os caches se levantam esticados pelos adeptos. Se ainda restam alguns momentos de futebol-paixão, este é certamente um deles. Daqueles momentos que se sente, mesmo sendo de outro clube, alguma inveja pela fidelidade com que os seus supporters, mesmo a perder por dois a zero e prestes a serem eliminados da champions, entoam o hino com o maior orgulho à face da terra. Imaginem um ritual historicamente entoado enquanto os jogadores entram em campo para defender o símbolo de um clube e a injustiça de uma decisão em proíbi-lo apenas e só por interesses comerciais uefeiros. Onde está o respeito pela história de um clube com mais de cem anos? A dignidade por um hábito e costume que rege os verdadeiros adeptos de um clube? A fidelidade que sentem pelo símbolo que defendem aguerridamente? Onde está a uefa que, supostamente, defende e respeita os clubes sem os quais pura e simplesmente não existiria?