2006/11/03

You'll Never Walk Alone revisited
Já passou tempo suficiente desde o jogo contra o fêcêpê para que todas as polémicas tivessem o seu tempo de antena. A última é, sem dúvida alguma, o comunicado da sad portista escrito em cima do joelho e com uma gritante falta de argumentos. Pior do que esse comunicado, só os que vão atrás e acenam com a cabeça a tudo o que é escrito, dito e falado por quem tem os maiores telhados de vidro. Para os mais esquecidos, o Anderson veio de uma lesão que o impediu de jogar contra os lagartos e esteve em dúvida toda a semana para o jogo contra o Benfica. Mais, ele reentrou no jogo depois de ter sofrido a falta, tendo saído cinco minutos depois. Mais ainda, no final do jogo, andou aos saltos pelo relvado a festejar com os seus maninhos, paizinhos e vovozinhos. Dizer que o lance foi agressivo e violento é mandar às malvas toda a noção de bom-senso. Todo o jogo foi pautado com grande respeito entre os jogadores o que, aliás, me deixou surpreendido. Ou seja, há todo um cenário e contexto que ridiculariza ainda mais esse comunicado.
Não foi impressão minha, eu vi e revi o lance e ouvi e reouvi tudo o que foi dito durante e após o jogo. O grego, como está na moda chamar agora, corta a bola e só há contacto físico a seguir, que nem é nada de especial, diga-se de passagem. Jogada limpa, sem falta nem cartão amarelo. Isto foi o que eu vi e confirmado pelos comentários em directo e pelas análises da imprensa escrita ao trabalho do árbitro. Passado umas horas após o jogo, o Anderson vai à faca e sai um comunicado. Então, os comentadores e jornalistas começam a ver o lance de outra forma. De um lance limpo e sem maldade, passou a ser um lance viril e duro. De um lance sem falta, passou a ser merecedor de cartão amarelo. Vejo e revejo o lance. E lembro-me que este nosso futebol não tem valores nem virtudes.
O Veiga continua igual a si próprio, ou seja, sem nível para alguém com demasiadas responsabilidades na estrutura do Benfica. Mas todos sabemos qual a escola dele e onde ele bebeu essa água. Lamento sinceramente é que tenha de levar com este traste no meu clube e se digo que o fêcêpê não soube perder este jogo, refugiando-se em tentativas de culpabilizar jogadores do Benfica para arranjar bodes expiatórios - para o quê é que não entendo, já que ganharam o jogo - também digo que o Veiga não soube estar na altura em que chegámos ao empate e, aposto, não saberia estar em caso de vitória. Vejo e revejo as imagens. E lembro-me dos adeptos do Celtic.
Num espaço de sensivelmente nove meses, os benfiquistas levaram com dois clubes britânicos que têm, opinião pessoal, dos melhores adeptos do mundo. Acredito em coincidências mas não acho que seja coincidente terem como hino o YNWA. Há qualquer coisa neste lema que os eleva a um patamar distinto e memorável que me leva a respeitá-los como grandes supporters no apoio aos seus clubes e como mentores de uma maneira de estar no futebol que devia deixar a pensar muito adepto português. Eles estão a perder por três golos e a poucos minutos do fim, arranjam toda a alma do mundo, levantam-se e entoam o You'll Never Walk Alone num dos topos da Luz. Não há nada a fazer nestes momentos a não ser ficar calado e admirar esta serenata de dez mil gargantas. Sim, serenata. Porque eles cantam como se fossem um só tornando-se perfeitamente perceptível a letra. Fazem isto como ninguém. E lembro-me dos adeptos do Liverpool.
A homenagem que os celtics fizeram antes do jogo começar ao exporem um lençol com sessenta e quatro metros quadrados em honra a Miklos Feher merece-me grande respeito. Soube disto num fórum de adeptos escoceses e o processo foi muito simples e rápido. Um deles lembrou-se dos dois jogadores que faleceram enquanto vestiam a camisola do Celtic, John Thomson e Johnny Doyle (cada um tem um lençol que é mostrado com regularidade nas bancadas) e sugeriu fazerem um tributo ao jogador do Benfica em pleno Estádio da Luz. Da sugestão até conseguirem ter o lençol nas suas mãos, foi uma corrida contra o tempo. Em dois dias já tinham cerca mil euros. E como se isso não bastasse, resolveram deixar aberto o fundo de contribuição de modo a reunirem o máximo que pudessem para dar a um hospital de Lisboa. Dito e feito. É aqui, e não só nas bancadas, que se prova que o melhor do futebol ainda são os adeptos.

4 Comments:

Blogger Pulga said...

Esse momento do YNWA no final foi mesmo arrepiante. Virei-me para trás e fiquei a olhar. Só me apetecia calar os meus para poder desfrutar melhor aquilo.
Excelente!

Curti também ver o desportivismo deles ao dar os parabéns aos benfiquistas. Ainda há adeptos como no antigamente.

11:30 da manhã  
Blogger S.L.B. said...

Off-Topic: espero que possas comparecer no jantar, GR1904. Aguardamos-te lá!

1:50 da tarde  
Blogger Pedro said...

O YNWA é arrepiante. Dá vontade de levantar o cachecol e cantar com eles. Uma das coisas q me agradou foi ver a maioria a respeitar o cantico deles e , inclusivê, a aplaudir.

Os do Celtic são bons mas ainda prefiro os do Liverpool.

11:00 da manhã  
Blogger C. said...

É verdade, os adeptos do Celtic são um exemplo de fair-play. É tudo muito bonito mas não sejamos cegos de todo. Em sevilha, assobiaram a minha equipa quando levantámos a Taça. Ainda hoje estou para saber porquê. Só sei que isto não se chama fair-play.
Quanto às diferentes perspectivas do lance do Anderson, já passou muito tempo para falar nisso. Pena que durante este tempo todo ele não tenha jogado.

3:15 da manhã  

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