A força que os putos têm
Na semana seguinte a termos sido campeões, e após mais um dia de trabalho, deparo-me com um puto no hall de entrada do meu prédio, enquanto esperava pelo elevador. Digo 'boa tarde', como mandam as regras de boa educação. E o puto responde-me com um tímido 'olá', sem nunca olhar para mim. Naqueles segundos em que ninguém diz absolutamente nada, porque não sabemos o que dizer ou porque nada há para dizer, reparei que ele trazia um poster com a última equipa campeã do Sporting. Era lagarto, o puto. Decidi provocá-lo, já no elevador, dizendo que o Benfica é que era campeão. A resposta surgiu pronta, sem papas na língua: 'o Sporting é o maior!', com os olhos brilhantes e já sem a timidez inicial. Mas não se ficou por aqui. Quando abria a porta do elevador para saír no meu andar, tentou atiçar a discussão: 'então, não dizes nada?'. E, antes de fechar a porta, respondi-lhe com um sorriso 'guarda bem esse poster porque vais precisar de olhar muitas vezes para ele até voltares a ser campeão'. E lá entrei em casa, descansado da vida mas ainda mal refeito das emoções que o meu Benfica proporcionou nesse fim de semana.
Este episódio, fez-me lembrar os meus primos mais novos que festejaram pela primeira vez que se lembram o título de campeão. É tudo, mas tudo mesmo, do Benfica. Não conheço mesmo ninguém da minha família que não o seja. E, às vezes, tenho pena que não haja ninguém da outra facção com quem pudesse discutir aqueles assuntos tão banais do futebol, mas que no fundo alimentam a nossa paixão clubística. Porque resolveram ser todos lampiões?! Quando pergunto aos meus primos o que lhes levou a ser do Glorioso, eles mais não me dizem do que um simples 'porque sim'. 'Mas porquê', pergunto num exercício quase desesperante. E eles encolhem-me o ombro. Fico a pensar comigo próprio, se me lembro de ter escolhido o Benfica. Se foi obra do acaso. Se foi o meu pai que me puxou para o encarnado. Se foi o vermelho das camisolas. Se fui eu que, naturalmente, me vi benfiquista sem dar por isso. E não encontro explicação. Por isso é que acabo por compreender o encolher de ombro deles. Não escolhi ser deste clube, tão pouco foi obra do acaso. Nunca me impingiram o Benfica mas sempre vi o meu pai lampião a ir aos jogos na antiga Luz e, confesso, isso ajudou. Foi com ele que dei os primeiros passos na Catedral. E lembro-me do meu avô falar do encarnado das camisolas, dos 15 minutos à Benfica, das papoilas saltitantes. Era inevitável, apesar de poder ter tido um efeito contrário por força da rebeldia geral dos putos em contrariar os pais. Eu não contrariei, apenas me limitei a seguir o meu caminho. E esse, tinha uma placa desde o início que dizia 'Estádio da Luz'. Não havia mais nada, nem verdes, nem azuis. Nada! Não queria saber dos outros para coisa alguma e ignorava-os com o meu orgulho benfiquista. Era puto...
Mas voltando aos meus primos, noto uma realidade diferente da minha. Eu, na idade deles, ia ver o Benfica. Eles não vão. O futebol hoje está diferente, a todos os níveis e, digo-o com nostalgia, tenho imensas saudades desse tempo. Mas dou-me por feliz por ainda ter passado por essa altura, pois hoje posso comparar duas realidades distintas. E tenho pena que os mais novos, como os meus primos e até mais velhos, não saibam verdadeiramente o que era ir à bola. Na realidade, hoje não vamos mais à bola. Vamos ao futebol. E a maior e grande diferença que espelha estas duas realidades separadas no tempo, é que há não muitos anos atrás, as camisolas se confundiam com os jogadores. Nos dias que correm, isso não acontece. Era puto...
Mas, paradoxalmente ou não, o que vivi nos últimos jogos e, especialmente, no fim de semana com a festa do Benfica campeão foi uma sensação de deja vu. Parecia que tinhamos voltado aos tempos antigos. A nova Catedral parecia o mítico e antigo estádio da Luz. Famílias inteiras à espera dos jogadores madrugada fora, gritando forte pelo Benfica campeão e cantando os hinos do Glorioso. Com bandeiras espalhadas por todo o estádio. Muitas. Algumas daquelas bem antigas, de madeira e até de ferro, que hoje são impedidas de fazer parte da festa. Nessa noite, os jogadores confundiram-se com as camisolas. Nessa noite, podia ter dito sem dúvida alguma que tinha ido à bola. Como nos velhos tempos de puto em que via os jogos de pé, não porque não houvesse cadeiras ou porque quem estava à frente me tapava a vista por ser mais pequeno, mas porque a minha vontade férrea de ver o Benfica não me deixava estar sentado. Nessa noite fui novamente puto...
Uma das maiores provas de benfiquismo que tomei conta, foi ler um texto da Leonor Pinhão que saíu no livro Ser Benfiquista. No dia seguinte ao Sporting ter sido campeão após 18 anos à seca, o filho dela vestiu, orgulhosamente, uma camisola do Benfica. E orgulhosamente andou com ela vestida o dia todo pelas ruas de Lisboa. Quando a crença é grande, a fé aumenta e não precisamos de menosprezar os adversários quando, por sermos apenas benfiquistas, temos razões de sobra para nos sentirmos orgulhosos. Mesmo quando não ganhamos e com a fé abalada, mas orgulhosos por sermos vermelhos por dentro e por fora. Ele era um puto...
E os putos é que sabem. Juntam as peças, montam o puzzle para, de seguida, desfazerem-no e voltarem a montá-lo. Nunca se fartam. Apenas ficam temporariamente cansados. Fazem a sua festa na mesma quando não ganham e até convidam os amigos. Os putos é que sabem...
Este episódio, fez-me lembrar os meus primos mais novos que festejaram pela primeira vez que se lembram o título de campeão. É tudo, mas tudo mesmo, do Benfica. Não conheço mesmo ninguém da minha família que não o seja. E, às vezes, tenho pena que não haja ninguém da outra facção com quem pudesse discutir aqueles assuntos tão banais do futebol, mas que no fundo alimentam a nossa paixão clubística. Porque resolveram ser todos lampiões?! Quando pergunto aos meus primos o que lhes levou a ser do Glorioso, eles mais não me dizem do que um simples 'porque sim'. 'Mas porquê', pergunto num exercício quase desesperante. E eles encolhem-me o ombro. Fico a pensar comigo próprio, se me lembro de ter escolhido o Benfica. Se foi obra do acaso. Se foi o meu pai que me puxou para o encarnado. Se foi o vermelho das camisolas. Se fui eu que, naturalmente, me vi benfiquista sem dar por isso. E não encontro explicação. Por isso é que acabo por compreender o encolher de ombro deles. Não escolhi ser deste clube, tão pouco foi obra do acaso. Nunca me impingiram o Benfica mas sempre vi o meu pai lampião a ir aos jogos na antiga Luz e, confesso, isso ajudou. Foi com ele que dei os primeiros passos na Catedral. E lembro-me do meu avô falar do encarnado das camisolas, dos 15 minutos à Benfica, das papoilas saltitantes. Era inevitável, apesar de poder ter tido um efeito contrário por força da rebeldia geral dos putos em contrariar os pais. Eu não contrariei, apenas me limitei a seguir o meu caminho. E esse, tinha uma placa desde o início que dizia 'Estádio da Luz'. Não havia mais nada, nem verdes, nem azuis. Nada! Não queria saber dos outros para coisa alguma e ignorava-os com o meu orgulho benfiquista. Era puto...
Mas voltando aos meus primos, noto uma realidade diferente da minha. Eu, na idade deles, ia ver o Benfica. Eles não vão. O futebol hoje está diferente, a todos os níveis e, digo-o com nostalgia, tenho imensas saudades desse tempo. Mas dou-me por feliz por ainda ter passado por essa altura, pois hoje posso comparar duas realidades distintas. E tenho pena que os mais novos, como os meus primos e até mais velhos, não saibam verdadeiramente o que era ir à bola. Na realidade, hoje não vamos mais à bola. Vamos ao futebol. E a maior e grande diferença que espelha estas duas realidades separadas no tempo, é que há não muitos anos atrás, as camisolas se confundiam com os jogadores. Nos dias que correm, isso não acontece. Era puto...
Mas, paradoxalmente ou não, o que vivi nos últimos jogos e, especialmente, no fim de semana com a festa do Benfica campeão foi uma sensação de deja vu. Parecia que tinhamos voltado aos tempos antigos. A nova Catedral parecia o mítico e antigo estádio da Luz. Famílias inteiras à espera dos jogadores madrugada fora, gritando forte pelo Benfica campeão e cantando os hinos do Glorioso. Com bandeiras espalhadas por todo o estádio. Muitas. Algumas daquelas bem antigas, de madeira e até de ferro, que hoje são impedidas de fazer parte da festa. Nessa noite, os jogadores confundiram-se com as camisolas. Nessa noite, podia ter dito sem dúvida alguma que tinha ido à bola. Como nos velhos tempos de puto em que via os jogos de pé, não porque não houvesse cadeiras ou porque quem estava à frente me tapava a vista por ser mais pequeno, mas porque a minha vontade férrea de ver o Benfica não me deixava estar sentado. Nessa noite fui novamente puto...
Uma das maiores provas de benfiquismo que tomei conta, foi ler um texto da Leonor Pinhão que saíu no livro Ser Benfiquista. No dia seguinte ao Sporting ter sido campeão após 18 anos à seca, o filho dela vestiu, orgulhosamente, uma camisola do Benfica. E orgulhosamente andou com ela vestida o dia todo pelas ruas de Lisboa. Quando a crença é grande, a fé aumenta e não precisamos de menosprezar os adversários quando, por sermos apenas benfiquistas, temos razões de sobra para nos sentirmos orgulhosos. Mesmo quando não ganhamos e com a fé abalada, mas orgulhosos por sermos vermelhos por dentro e por fora. Ele era um puto...
E os putos é que sabem. Juntam as peças, montam o puzzle para, de seguida, desfazerem-no e voltarem a montá-lo. Nunca se fartam. Apenas ficam temporariamente cansados. Fazem a sua festa na mesma quando não ganham e até convidam os amigos. Os putos é que sabem...