2005/10/20

Mais uma vez, pelo Benfica
Chega-se a Santa Apolónia quase onze horas depois de termos partido da Campanhã, o mesmo quer dizer às 11h30 da manhã de domingo, que é também o mesmo que dizer a horas impensáveis, depois de uma vitória no Dragão que serviu para vingar catorze anos de injustiças e jogos sujos. Tudo isto pelo Benfica. Ganhámos, mas mesmo que tivessemos perdido, a viagem de regresso tinha valido a pena pela aventura que se tornou, pois são estórias destas que fazem a história de uma época. Mesmo que não ganhemos nada, ficaremos com um rol de aventuras vividas que mais tarde vão ser recordadas por quem esteve presente e por quem gostaria de ter estado. E estes últimos só sabem verdadeiramente o que perderam se também estivessem presentes. De certeza que se ouvisse tantas peripécias passadas numa só deslocação, iria arrepender-me de não ter ido.

Não é todos os dias que se vence no estádio do nosso maior rival, por isso cada vitória é sentida com uma intensidade que mistura sentimentos de gozo por fazermos a festa em casa deles com alguns laivos de superioridade inerente ao facto de virmos da capital e representarmos o poder central que eles tanto criticam. Ganhar naquela terra, escassos meses depois de nos termos sagrado campeões também ali, é gozar literalmente com o orgulho daquelas gentes que só se sentem grandes quando ecoam pelo estádio a versão vernácula do Glorioso SLB.

Pouco mais de trinta e quatro horas depois desta aventura, mais uma vez o Benfica como motivo para fazer uma directa desde Lisboa até Villarreal. Foi a primeira deslocação ao estrangeiro que fiz de carro e ao longo da viagem foram várias as viaturas que se cruzaram connosco com o mesmo objectivo e ideal. É mesmo aconchegante saber que não estamos sozinhos, que há mais pessoas assim como nós, que correm atrás da nossa bandeira e do nosso símbolo. E ver isto fora do nosso país, da nossa cidade e do nosso estádio faz-nos sentir mais seguros e com um sentimento de invencibilidade ainda antes do jogo começar. São sacrifícios que acabam facilmente por ser feitos por gosto, em que nada perdemos e tudo ganhamos. Aprofundam-se conhecimentos e amizades. Conhecem-se novas culturas e rivalidades. Contam-se histórias de deslocações e jogos passados. E o pano de fundo é sempre o Benfica, sempre.

Villarreal é uma cidade pacata onde não se passa nada. Lojas fechadas durante todo o dia a meio de uma semana de trabalho. Não se vê vivalma nas ruas, a não ser os benfiquistas que vão chegando aos poucos. Não fossemos nós e arriscava dizer que não passava mesmo de uma cidade fantasma. Estava com algum receio deste jogo, mas bastou-me lembrar os últimos jogos do Benfica para me sentir mais confiante. E foi com esta postura que a equipa entrou no relvado. Que diferença em relação ao ano passado! Agora sim, jogamos futebol, ou melhor, jogamos à bola como eu gosto de dizer. No final do jogo, fiquei com a nítida sensação que podíamos ter ganho mas gostei da postura da equipa, da forma como se apresentou em campo. Sem medo. Com vontade de vencer. As papoilas saltitantes eram assim.

De todas as deslocações que fiz para ver o Benfica no estrangeiro, esta foi a que menos expectativas me formou. Não estava à espera de uma invasão de adeptos - o que se confirmou, até porque o Villarreal apesar de ser na vizinha Espanha, não tem o nome que tem o Man Utd, por exemplo - mas mesmo assim estiveram uns 1300 benfiquistas. E, tal como em Old Trafford, recebi mensagens a dizer que se ouviam muito bem na televisão. Mas desta vez não me causou tanto impacto, por uma razão: em Espanha não existe uma cultura de apoio como em Inglaterra, o que de facto se confirmou. Houve um momento que me deixou arrepiado, quando os dv1982 inciaram um cântico que entrou mesmo pelo intervalo dentro. Foram cerca de 12 minutos sempre a cantar o mesmo, com a alma e o peito cheio de crença, arrastando até os outros adeptos benfiquistas debaixo de uns choviscos que teimavam em caír. Infelizmente, ou não, situações como estas são raras. Mas são momentos como estes que nos fazem acreditar que podemos levar a equipa à vitória. Só assim se explica que durante tanto tempo o mesmo cântico seja ininterruptamente entoado. E, ao contrário do que ultimamente se tem escrito na imprensa, somos nós - os mais fanáticos - que estamos lá, a milhares de quilómetros de casa, para puxar pela equipa quando ela precisa. Tudo isto pelo Benfica.

Já fora do estádio, depois do jogo ter acabado vi o Miguel, ex-jogador do clube, à entrada da porta principal. Acho que ele não merecia mais do que o meu desprezo, mas não me contive.
- Devias ter vergonha na cara, atirei a uns metros.
- Podes falar comigo na boa, respondeu-me.
Sinceramente não esperava que ele me ligasse, ainda por cima estando ao telemóvel. E cheguei-me ao pé dele para dizer:
- Viste o Nélson? Não fazes cá falta...
Não lhe disse mais nada, nem ele respondeu. E continuei com a certeza que é mesmo assim.

Lisboa. Porto. Lisboa. Villarreal. Lisboa. Tudo isto pelo Benfica...!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bem eu só fui ao porto, não tive o prazer de ir a vilarreal.
Mas a deslocação ao porto é mesmo daquelas deslocações que ficam marcadas para o resto da vida, não só por termos ganho passado tantos anos, mas sim por todas as coisas que aconteceram na viagem, principalmente na de volta.
Podia ficar aqui a noite toda a contar Estórias da nossa atribulada viagem de volta a Lisboa, mas quem lá esteve sabe bem como aquilo foi!
Não posso é deixar de referir a entrada em Lisboa pela linha de sintra, foi uma entrada "vitoriosa" e memorável.

Já agora, tiveste bem quanto ao Miguel.

Abraço do outro lado.

9:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O pipoca e o pai dele é que sabem!

Quanto a Villareal:"Inveja...coisa feia!"

Ainda bem que te divertiste ;)

Beijos,
I.

11:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Miguel não faz falta nenhuma ao futebol.É um mercenário do pior...

8:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Em relação a essa famosa viagem do dragão para lisboa, eu não estive presente, mas as onze horas de caminho de que se fala são prova de que será algo que não esquecerão.

No dragão toda a gente viu, e para nosso agrado aquilo a que se chama uma equipa personalizada, prática eficaz...penso que estamos num bom caminho para o bi.
Em Villareal podia-mos ter ganho, aliás ganhamos, não fosse o golo mal anulado, na minha opinião!

Esse cruzamento com o miguel no final do jogo demonstra a frustação da parte dele, já que liga dos campeões para ele só da bancada ( por mérito próprio).

Um Abraço do beco do mariano.

11:14 da tarde  

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