2005/09/21

Recordações de um dia que quero ver repetido

'Viagem a Milão dia 25 de Março com regresso no mesmo dia, em vôo charter, por €315. Bilhete do jogo incluído. Alinhas?'

Foi assim que tudo começou há quase um ano e meio. Com uma mensagem escrita enviada a um amigo meu numa manhã de trabalho quando faltavam "apenas" seis dias para o jogo em San Siro contra o Inter. Não, mentira. Tudo começou uma semana antes, no estádio da Luz, quando o Benfica jogou a 1ª mão dos oitavos de final da Taça Uefa. Mal o árbitro apitou para o fim do encontro, prometi a mim mesmo, custasse o que custasse, que ia ver o meu clube a Itália na 2ª mão. Após o jogão que os jogadores fizeram, banalizando literalmente uma das mais ricas e fortes equipas do mundo, sentia-me frustrado pelo empate e a vontade de apoiar o SLB lá fora falou mais alto do que a frutração que me consumia. É incrível como certos jogos me levam a um tal estado de angústia por não termos ganho. Este foi, muito provavelmente, o empate que mais me custou a digerir muito por culpa da raça e vontade de vencer que os jogadores mostraram nos noventa minutos de jogo. Eles mereciam e naquela noite souberam honrar, à maneira antiga, a camisola que envergavam. Mas faltaram os golos e não me esqueço do bastardo do Toldo que defendeu o possível e o impossível. Duas semanas mais tarde, em Milão, percebi que perdemos a eliminatória pelos golos que não marcámos na Luz. E bastava um só para tudo ser perfeito.

A resposta do meu amigo, também via sms, não demorou muito a surgir. Na verdade, foram quase 60 minutos, mas no estado em que andava, pareceram-me 60 dias. Daqueles que teimam em não passar mesmo. 'Conta comigo!', recebi no meu telemóvel. E não perdi nem mais um segundo para marcar a viagem. Vim a saber, no dia seguinte, que ia no mesmo charter dos DV82 (na altura ainda não tinha regressado ao grupo após muitos anos afastado). E nesse dia, dormi bem mais descansado por saber que, daí a uns dias, ia estar num dos estádios míticos do mundo da bola a apoiar o meu Benfica.

No dia da partida, chego ao aeroporto pouco depois das seis da manhã para fazer o inevitável check-in. O nervoso miudinho que apareceu era mais pelo facto de ir fazer uma viagem de avião do que, propriamente, pelo jogo que ainda estava a mais de doze horas do seu início. Fico agradavelmente admirado quando vejo muitas pessoas com material do SLB, umas totalmente equipadas, outras nem por isso. Jamais imaginaria que iam partir de Lisboa, se não me engano, cinco aviões especialmente fretados para adeptos do Benfica. E isto era só o princípio de um dia épico. Entrámos no avião depois de termos sido transportados pelos buses de serviço do aeroporto e são poucos os que conseguem ficar no devido lugar, pois praticamente ninguém respeitou os lugares marcados. Os primeiros cânticos foram então entoados e começa-se a sentir a adrenalina que antecede os grandes jogos. Pessoalmente, acreditava num bom resultado, mas na verdade também estava tão ou mais ansioso por ir ver, ao vivo, o ambiente de San Siro. Falar da pátria do tifo sem chamarmos à conversa este palco, entre outros italianos, é algo que não me passa pela cabeça. E eu ia lá para ver, primeiro de tudo, o Benfica mas também por causa dos tiffosi.


Não quero perder-me com descrições do que aconteceu até entrarmos no estádio. Vou apenas deixar duas curiosidades. A primeira: Piazza Del Duomo era um mar vermelho, parecia que estava em Portugal. E a segunda: os carabinieri fecharam várias avenidas do centro de Milão para que as várias dezenas de autocarros fossem devidamente escoltados até ao parque de San Siro. Agora imaginem o que é viver uma situação destas a cerca de dois mil quilómetros de Lisboa. É difícil sentirmo-nos mais importantes. E já se cantava questa merda è tutta nostra. Na versão lusitana, claro.

Mas o melhor estava para vir. Entrei no estádio, dirigi-me para a bancada e logo fiquei paralisado. É inevitável e mais forte que eu. Tentei reagir mas nada, nicles, não consegui. Só me lembro de ter ficado com os olhos molhados por causa do que vi naquele sector do estádio: milhares de benfiquistas, sofredores como eu, naquele estádio mítico para ver o Benfica numa 5ª feira à noite e a tantos quilómetros de casa. Ali, era tudo vermelho mesmo, uns seis mil todos juntos pelo mesmo ideal. Do jogo em si, prefiro não falar, a não ser que fomos ingloriamente afastados da Uefa mas que voltámos para casa com o orgulho e a honra em alta. Perdemos quatro a três mas, por tudo e por nada, costumo dizer que mesmo se soubesse que íamos perder eu tinha ido na mesma ver este jogo. E cada vez que este dia vem à conversa, não me canso de dizer uma coisa: quando pensava que já tinha visto toda a força do meu clube, é verdadeiramente incrível como nos apercebemos que ele é ainda maior do que pensávamos...

Porque razão me lembrei disto tudo? É que hoje li que são esperados três mil e quinhentos benfiquistas em Old Trafford, dia 27 de Setembro e, também desta vez, vou ter o privilégio de estar presente para apoiar o Benfica noutro estádio mítico. Assim, era impossível não me recordar de Milão! Em Manchester, espero ter outra prova de que somos mesmo enormes. Não é que precise disso, mas é daquelas sensações que só vivendo é que se percebe o seu alcance: imensurável...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Boa viagem rapaz. Que os adeptos te surpreendam tanto como em Milão mas que o resultado seja outro ;).
Pulga

1:43 da tarde  
Blogger S.L.B. said...

Lá estarei também, na minha primeira viagem ao estrangeiro a acompanhar o Glorioso. VIVA O BENFICA!

1:49 da tarde  

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