2006/01/09

O fim de semana que passou ficou marcado pelo Protesto Ultra Nacional, um manifesto que não é mais do que um alerta conjunto de vários grupos de apoio em relação a vários aspectos negativos que o futebol moderno e industrializado tem trazido. A meu ver, qualquer protesto tem legitimidade quando nasce de uma consciência cívica que tenha por base bons e justos fundamentos. Protestar por protestar, dispenso. Se houver razões para isso, compreendo. E se juntarmos alguma injustiça às razões do protesto, considero. O manifesto que está por trás deste projecto, tem vários pontos de luta. E aqui, mais uma vez a meu ver, perde-se bastante a força que poderia ter. Os ideais contra o futebol moderno prendem-se principalmente com o preço dos bilhetes, os horários dos jogos de futebol subjugados aos interesses televisivos e publicitários e a repressão exercida pela polícia ao abrigo da lei 16/2004 que visa fundamentalmente os membros de grupos de apoio. Tudo o que saia desta trilogia faz perder força à luta que nos devia mover pela defesa de um futebol mais justo e verdadeiro, por um futebol cuja base de apoio sempre foram os adeptos, cada vez mais substituídos por outra base de apoio que tornou o futebol numa indústria mercantilista, que são as televisões e as publicidades. Estas, têm ganho um poder cada vez maior nos orçamentos das sad’s e o adepto vê o seu peso reduzido junto do clube que apoia. Passou de uma peça importante no xadrez organizacional do clube, onde o seu voto era considerado, para um peão nas mãos de interesses mercantilistas. Posto isto, dos nove pontos que o manifesto em causa apresenta, cinco estão desfasados desta luta. Os três que referi atrás é que deviam ser postos à frente de todos e quaisquer outros. Assim perde-se força e esvazia-se todo o sentido que poderia ter se fosse baseado no que realmente importa.

Mas o protesto não foi posto em prática por todos os grupos de apoio. Dependendo dos motivos que cada grupo apresente para não participar nesta iniciativa, podem ou não ter razão. Justificar a ausência porque este protesto nasceu na internet é algo que não tem fundamento. Não há legitimidade neste motivo quando os próprios grupos de apoio têm sites onde divulgam a sua actividade aos seus filiados. O problema não é a web mas, acima de tudo, o que se faz com este meio ao nosso dispôr. E esta iniciativa é um excelente exemplo do que se pode fazer de bom com a internet como meio de divulgação e discussão. Justificar a ausência com a origem anónima do protesto, também não tem fundamento, pois este surgiu de alguém identificado e ligado aos Desnorteados que, diga-se de passagem, não sofrem as consequências do futebol moderno como os grupos dos grandes clubes da primeira divisão mas sabem, tal como todos os outros, do que sofrem.

Houve grupos que ficaram de fora, apresentando motivos coerentes para tal o que não quer dizer que tenham razão. Toda a gente sabe que uma das fontes de receita dos grupos é a venda de material e são muitos os euros movimentados à conta deste procedimento. Isto é negócio, não é? Ok, mas o que fazem com esta receita já difere de grupo para grupo. E esta é uma velha discussão, mas basicamente e desde que isso não signifique banalizar a imagem do grupo, não vejo grande problema em ter receitas desde que sejam exclusivamente aplicadas para o grupo – tifos e deslocações. Nunca, mas nunca mesmo para proveito pessoal! Com isto quero dizer que não é o negócio em si que retira legitimidade em participar no protesto contra o futebol moderno, tendo em conta que este se baseia em interesses mercantilistas, mas sim o resultado desse negócio. E aqui, talvez o único grupo que não deve nada a ninguém nesse aspecto, é um dos do Benfica. Curiosamente é também aquele que se afasta mais destas lutas e se adapta melhor às desvirtudes do futebol indústria sem com isso perder a força que lhe caracteriza. Dá que pensar...

Depois, bem, depois estamos em Portugal. País de tradições e contradições. Onde se proclama o olha para o que te digo e não para o que faço. Em que se defende a teoria e na prática esquece-se tantas vezes do que foi dito. Por cá não há nem mais nem menos rivalidade do que aquela que existe noutros países onde existem grupos de apoio há bastantes anos, como Itália, França, Croácia, entre outros. A questão é que essas rivalidades não nos deixam lutar por algo que é do interesse de todos os que se englobam neste mundo. Ou muito me engano ou jamais veremos os grupos dos três grandes portugueses unidos na luta pelo mesmo ideal. Cada um com as suas razões mas, deixem-me ter o desplante, sem nenhuma legitimidade. Vão a todo o lado nos bons e maus momentos. Mas não vão a nenhum lado enquanto não perceberem que a questão não é só a da incoerência entre o que defendem e o que praticam - porque se fosse essa a razão principal, ninguém, uns mais do que outros, teria pernas para andar - mas sim a da rivalidade que, apesar de ser o sal do futebol, neste caso cega os interesses de todos nós. Ou alguém duvida que um vermelho, verde e azul juntos teriam muito mais força e credibilidade?

6 Comments:

Blogger Pulga said...

Acho que uma cena entre grupos dos 3 grandes até seria possível, mas é obvio que não terias nem os super nem a juve. Acho que a alinhar numa cena dessas só o colectivo, torcida e dv. Mas isto sou eu a pensar, na realidade não sei se seria assim

4:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Temos pena...

Abraço

6:30 da tarde  
Blogger Desnorteado said...

se calhar as pessoas tao enganadas relativamente aos grupos grandes é muito possivel que algo seja feito em conjunto so n aconteceu neste protesto porque os diabos tiveram outra opinião mas espero sinceramente que no fututo as coisas com mais diálogo venham aparecer!

Acho o PUN um sucesso porque finalmente fez com que toda a gente tivesse uma posiçao definida todos os grupos se manifestaram e nem discordou do protesto, mas sim d um ou outro topico, ou algumas maneiras de organização. Eu só posso ficar contente porque acho que é um ponto do partida para uma caminhada histórica!

Saudaçoes Ultras
Rui Miguel
Desnorteados

4:14 da tarde  
Blogger GR1904 said...

Julgo que o importante é não ficar parado a partir de agora. Já que se iniciou este protesto, devia-se conjugar esforços no sentido de continuá-lo de forma coesa e conjunta. No entanto, sou de opinião que não é com frases que lá vamos, pois tantas já foram mostradas ao longo dos tempos e nada mudou. Nem sequer consciências, pois o filme já se repetiu, às vezes com os mesmos actores, outras vezes com outros. Fiquei admirado com a participação de alguns grupos no protesto e com a ausência de outros tantos. Mas é como disse, isto começa a ganhar verdadeiramente força quando todos, sem excepção, se unirem pelo mesmo. E não vale a pena, em minha opinião, justificar ausências com razões que são fundamentadas mas que perdem legitimidade numa luta que devia ser mesmo de todos.

Um abraço Rui.

5:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Falam, falam, falam, falam, falam...

Abraço

8:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mais um excelente Post companheiro.
A luta continua.

Um Abraço

Beco do Mariano

11:39 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home