Mais uma noite daquelas...
E o Benfica lá apareceu. Este Benfica tão depressa nos leva ao desespero, como a seguir tem o condão de nos fazer voar ao dar-nos uma noite europeia como as antigas. Este Benfica está talhado para os grandes momentos, mas esquece-se que também é nos pequenos momentos que se ganham campeonatos. Este Benfica levou-me a falhar apenas um jogo fora para a Champions, em Paris, e se tudo correr bem só não me vai levar à falência porque, entretanto, as viagens via lowcosts passaram a estar geograficamente mais acessíveis. Mas se tanta gente se endivida com coisas supérfluas, sem razão nenhuma que não seja o consumismo desenfreado, porque razão não pode haver quem se endivide por um amor tremendamente trágico e ao mesmo tempo compensador? Pelo menos estou a consumir um ideal de que necessito de tal modo que chega a condicionar a minha vida. Pelo menos estou a consumir algo que me faz viajar, conhecer novas culturas, cidades e vilas por que nunca passei. Tenho a certeza que se não fosse o futebol, e o meu Benfica, não tinha conhecido alguns dos sítios onde estive. E duvido que os visitasse, se não fossem as papoilas saltitantes. E agora nem estou a entrar pelos tais caminhos que, por mais que os trilhe e escreva sobre eles, é preciso grande tolerância para que, quem nos olha do outro lado, consiga entender um pouco que seja disto. Porque este até é o lado que mais facilmente se compreende no meio disto tudo. Mas eu não me canso de partilhar momentos e situações que vivi com pessoas que também andam neste mundo e gosto de contar essas histórias a quem não teve oportunidade de sentir esses momentos. Há coisas que não podem ficar escondidas, precisam de ser lembradas e relembradas. Têm mesmo de o ser. Têm de se lhe dar asas para que não se esqueçam, nunca, que nós precisamos delas para desejar mais momentos assim. Momentos em que mesmo quando não há um golo, sentimos um arrepio na pele por estarmos a milhares de quilómetros da Luz, ao lado de tantos outros como nós, a sentir coisas que só o Benfica podia proporcionar. Momentos em que gritamos mais alto do que alguma vez imaginavamos que fossemos capaz. Momentos em que nos calamos para sentir na alma a força de um Benfica! em uníssono. Momentos em que, e agora falo por mim, tão poucos segundos depois de explodir com um golo como o de terça-feira passada contra o Liverpool, não consigo deixar de ficar quieto e mudo a olhar para aquele imenso mar de gente em delírio colectivo. Sim, eu fico completamente paralizado depois de um golo destes, num jogo com esta carga emocional, num Inferno como o da Catedral. Como se eu mesmo deixasse de existir e tudo à minha volta passasse a ser o centro do mundo. Alguém disse um dia que isto de estar vivo não vai acabar bem. Não deixa de ser verdade. Mas eu tenho muito mais medo de deixar de viver estas histórias.
2 Comments:
Excelente texto! A verdade é que o futebol é um vício do caraças! Que outra coisa na vida nos faz passar pelas emoções que sentimos com o beatiful game!? Como explicar o que sentimos nos segundos que se seguem a uma bola passar uma linha desenhada num relvado?
Quanto ao jogo: como é bom ter as grandes noites Europeias de volta à Luz!
G. descansa que não és o único a paralizar. No Bessa, quando fomos campeões, toda a gente gritava e pulava. E eu estava ali, quieta que nem um rato a olhar para o relvado, sem dizer uma palavra e a deixar cair as lágrimas.
Esses momentos levam-nos a outra dimensão. São sentimentos indescritíveis. Há dias que dá para saltar mais alto que pulgas :P e outros em que estagnamos. Mas é isso que tem piada. As reacções após momentos de alegria estúpida!
Bom texto rapaz ;)!
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