2008/11/17

Desde que a famigerada lei 16/2004 foi posta em prática, e o grupo do Topo Sul escolheu, legalmente, não efectuar o registo no CND, que se abriu a porta da perseguição político-policial.

O que aconteceu na madrugada de domingo e as suas sequelas ao longo do dia de ontem e, decerto, nos próximos também, é o corolário disso mesmo.

Quem não se lembra das declarações do Laurentino Dias no ano em que a lei entrou em velocidade de cruzeiro? Confundia-se obrigatoriedade com liberdade de escolha, porque ao contrário do que as pessoas possam pensar, o registo das claques não é uma questão de obrigação legal. É, antes de mais, uma questão de escolha. Portanto, nem sequer se pode falar em legalização porque não há grupos legais e ilegais. Quem quer, regista-se, dando, supostamente, toda a informação dos seus membros inscritos. Supostamente porque foi tornado público recentemente que há grupos que forjaram esse mesmo registo, dando um ficheiro de membros infinitamente inferior ao que corresponde à realidade. As autoridades sabem e pactuam com a situação. Quem não quer, não se regista e fica sem os apoios que os clubes lhes poderiam conceder. O que até nem é mau de todo e trás vantagens. Principalmente, mais independência em relação à cadeira do poder da SAD do clube, não ficando sujeito aos humores de quem a dirige.

Quem não se lembra de ter passado a ver cada vez mais policias e corpo de intervenção nos acessos ao Topo Sul? Confundia-se segurança com liberdade de expressão. Ficou-se a saber que uma não depende da outra o que, numa democracia, não deixa de ser contraditório. E confirmou-se que, quem tem o dever e obrigação de zelar pela ordem pública, afinal era quem tantas vezes promovia e potenciava os conflitos. O que, mais uma vez, também não deixa de ser contraditório.

O grupo benfiquista do Topo Sul não escolheu a via mais fácil. Antes pelo contrário. Foi pelo caminho mais difícil, mas ao mesmo tempo, o único que deveria ter escolhido. É uma questão de princípio, de valores básicos e até de inconstitucionalidade, segundo alguns. Há figuras mais ou menos públicas que criticam a existência desta lei, como o Daniel Sampaio. Um grupo de apoio ao Benfica não é mais nem menos do que outros sócios e adeptos do clube. Bem, se calhar até podem ser mais, porque são os que mais facilmente dizem presentes quando o clube mais precisa, são os que mais rapidamente fazem sacrifícios para apoiar o clube que amam e são os que mais fielmente acompanham o clube. Só por isto, por muito pouca substância que possa ter aos olhos de alguns, merecem o respeito de todos os adeptos apaixonados. É bom não esquecer isso.

Esta operação concertada do DIAP, tem sido altamente mediatizada pela comunicação social. Ninguém me tira da cabeça que o destaque que tem tido foi promovido pela polícia, que tem todo o interesse em criar um clima altamente desfavorável ao grupo de apoio do Benfica. Paralelamente, revela algumas incongruências, dúvidas e até sintomas de miopismo.
Incongruências, porque as justificações das detenções baseiam-se em associação criminosa, posse de armas e tráfico de drogas. Então se é assim, a colagem do nome do grupo de apoio, era excusada, porque o que fazem na sua vida privada apenas e só a eles lhes diz respeito. O que tentaram fazer, juntamente com o papel da comunicação social, foi desde logo influenciar a opinião pública e sentenciar todo um grupo de apoio por causa de uns tantos membros.
Dúvidas, porque o rol de acusações revela uma postura persecutória do DIAP, a partir do momento em que, legalmente, o grupo optou por não se registar. Mais interessado no pequeno tráfico de estupefacientes e actos de violência gratuita enquanto que os lordes mafiosos do BPN, só para dar um exemplo, depois de conseguirem efectuar todos os desfalques possíveis e imaginários, acabam por sair incólumes garantidos por uma nacionalização financiada pelo dinheiro dos contribuintes. Aqui, já não actuaram.
Miopismo, porque fecha os olhos a uma realidade que, do outro lado da segunda circular e lá mais para cima do país, já há muito que merece ser investigada. E esses até fazem publicidade ao seu modo de vida, admitindo que vivem das claques que dirigem e expõem, até, os sinais exteriores de riqueza que não se coadunam com os rendimentos que declaram.
Depois, vemos todo o arsenal apreendido que a polícia tanto faz questão de mostrar publicamente. Encontramos bastões de baseball, soqueiras, tochas e potes de fumo. Nada disto é ilegal, portanto nada disto deveria constar desta montra, o que só aumenta a sensação de perseguição por parte das autoridades.
Que é conhecido o pouco amor e a relação dificil que a polícia sempre teve, desde o início, com o Topo Sul do Benfica, isso é claro como a água.
O que não sabiamos, mas ficámos a saber este fim de semana, é que a liberdade de escolha acaba por ser um livre arbítrio exercido por uma autoridade que decide como, quando e quem deve ser detido com base em acções que só contam para alguns.