2006/01/30

Uma noite de sábado fria, muito fria. Um estádio cheio pronto a rebentar num inferno ao menor sinal de empolgamento dos jogadores lá em baixo no relvado. De um lado uma equipa moralizada em todas as frentes. Do outro, uma equipa que até ao início do jogo só não se sabia por quantos é que iria sair vergada ao peso de um gigante. De um lado, as camisolas vermelhas que se esperavam berrantes. Do outro, uns verdes que à semelhança das equipas pequenas, queriam mostrar serviço naquele palco. No fim, de um lado não houve nada, um rasgo, uma jogada, um momento de inspiração. E do outro houve tudo e tudo saíu bem. A esta distância do jogo ainda não percebi se o que se passou na Luz foi uma noite de desinspiração colectiva ou se foi falta de respeito pela camisola que têm as quinas bordadas. Mas pelo desacerto geral que vi, estou mais inclinado para a primeira hipótese. Além disso, não consegui ficar chateado com os jogadores, com o treinador, com nada. Fiquei, sim, em baixo como há algum tempo não me sentia depois de um jogo do meu clube. É a primeira vez desde sábado que estou a falar no jogo, de tão mau que foi não quis falar dele. Noites como estas não se repetem tão cedo, em que à total ausência de jogo do Benfica corresponde uma máquina afinada como não se via há muito, mesmo muito tempo pelas bandas do rival alfacinha. E logo num derby. Triste sina a do meu clube que se permitiu a uma noite destas. Mas é ainda mais triste a sina de um clube cujos adeptos quase só se lembram de mostrar publicamente o seu orgulho quando ganham ao Benfica, como se tivessem ganho um campeonato no último minuto da última jornada. É por isso que fiquei tão chateado. Gostava de poder sentir essa alegria, mas tenho a certeza que isso não me chegava. Não me chegava ganhar o derby e andar com a camisola vestida ou o cachecol ao pescoço no dia seguinte num qualquer centro comercial de Lisboa porque a minha realidade é bem maior que esse facto. A minha realidade é, mesmo com a derrota no derby, estar à frente deles, poder receber o Liverpool e ir a Anfield Road tentar fazer a festa. E nem me importava de ficar pelo caminho se puder sentir o que senti em Old Trafford. Coisas que pelas bandas do rival não passam de miragens. Como sempre...

2006/01/27

Mais diferenças
Desculpem, mas tenho de escrever isto. É mais do mesmo, mas torna-se impiedoso. Hoje, à hora de almoço, peguei novamente num jornal diário. E novamente reparei que, lá para o meio, a Leonor e o Eduardo tinham cada um a sua crónica. O assunto era o mesmo do outro dia, o derby capital - ou será do capital? E mais uma vez voltei a ler basicamente as mesmíssimas coisas. Tive de fechar o jornal e confirmar a data, pois pensei que tivesse a ler a edição do outro dia. Mas não, era a de hoje mesmo. E desta vez, o Eduardo ao falar do Benfica acrescentou outra pérola, dizendo que não foi só no jogo do ano passado para a liga que o meu clube foi beneficiado, mas também no jogo dos 3 golos a 3 para a taça de Portugal na Luz. Da Leonor, li-lhe mais uma história unicamente sobre o Benfica. E pela enésima vez chego à conclusão que o Glorioso é a obsessão de toda a gente.

2006/01/25

Diferenças
Durante a hora de almoço peguei num jornal diário e pus-me a ler. Lá para o meio dei de caras com duas crónicas sobre o derby capital, uma da Leonor Pinhão e outra do Eduardo Barroso. Uma crónica falava exclusivamente do Benfica, contando um episódio dum carteiro que tinha tido um sonho para o jogo de sábado à noite. Não há uma única linha que falasse do Sporting. A outra crónica, embora não exclusivamente, também falava do Benfica, lamentando ainda nesta altura que o derby da época passada na Luz tinha sido ganho pelo Glorioso com uma falta sobre o guarda-redes leonino, entre outras lamúrias face ao Benfica. E do Sporting, pouco falava. Acho que nem preciso de identificar a quem pertence cada crónica. Cada um escreve sobre o que quiser. A diferença é que uns "só" querem o Benfica e outros gostavam de querer algo mais que não chega, nunca chega. É precisamente nestas coisas que se percebe a grandeza do meu clube.

2006/01/17

- Pai, pai! O Simão vai mesmo embora?
- Não sei, Francisco. Não queres que ele vá embora, pois não?
- Não... e os meus amigos da escola também querem que ele fique!
- Mas o Benfica precisa de dinheiro para comprar outros jogadores.
- Eu não quero outros jogadores! Se o Simão for embora é porque não gosta do Benfica...
Esta é uma parte da conversa entre pai e filho que ouvi na mesa ao lado quando estava a almoçar. Nela, não deixa de haver uma verdade: enquanto forem putos e jogarem à bola no recreio são eles que ainda melhor percebem o que é amor à camisola levado ao extremo, ao limite. Se forem embora é porque não gostam do clube, se ficarem é porque estão de alma e coração. Como se fosse tão simples assim. Mas entretanto crescem e apercebem-se que isso é quase um mito nos dias que correm.

2006/01/09

O fim de semana que passou ficou marcado pelo Protesto Ultra Nacional, um manifesto que não é mais do que um alerta conjunto de vários grupos de apoio em relação a vários aspectos negativos que o futebol moderno e industrializado tem trazido. A meu ver, qualquer protesto tem legitimidade quando nasce de uma consciência cívica que tenha por base bons e justos fundamentos. Protestar por protestar, dispenso. Se houver razões para isso, compreendo. E se juntarmos alguma injustiça às razões do protesto, considero. O manifesto que está por trás deste projecto, tem vários pontos de luta. E aqui, mais uma vez a meu ver, perde-se bastante a força que poderia ter. Os ideais contra o futebol moderno prendem-se principalmente com o preço dos bilhetes, os horários dos jogos de futebol subjugados aos interesses televisivos e publicitários e a repressão exercida pela polícia ao abrigo da lei 16/2004 que visa fundamentalmente os membros de grupos de apoio. Tudo o que saia desta trilogia faz perder força à luta que nos devia mover pela defesa de um futebol mais justo e verdadeiro, por um futebol cuja base de apoio sempre foram os adeptos, cada vez mais substituídos por outra base de apoio que tornou o futebol numa indústria mercantilista, que são as televisões e as publicidades. Estas, têm ganho um poder cada vez maior nos orçamentos das sad’s e o adepto vê o seu peso reduzido junto do clube que apoia. Passou de uma peça importante no xadrez organizacional do clube, onde o seu voto era considerado, para um peão nas mãos de interesses mercantilistas. Posto isto, dos nove pontos que o manifesto em causa apresenta, cinco estão desfasados desta luta. Os três que referi atrás é que deviam ser postos à frente de todos e quaisquer outros. Assim perde-se força e esvazia-se todo o sentido que poderia ter se fosse baseado no que realmente importa.

Mas o protesto não foi posto em prática por todos os grupos de apoio. Dependendo dos motivos que cada grupo apresente para não participar nesta iniciativa, podem ou não ter razão. Justificar a ausência porque este protesto nasceu na internet é algo que não tem fundamento. Não há legitimidade neste motivo quando os próprios grupos de apoio têm sites onde divulgam a sua actividade aos seus filiados. O problema não é a web mas, acima de tudo, o que se faz com este meio ao nosso dispôr. E esta iniciativa é um excelente exemplo do que se pode fazer de bom com a internet como meio de divulgação e discussão. Justificar a ausência com a origem anónima do protesto, também não tem fundamento, pois este surgiu de alguém identificado e ligado aos Desnorteados que, diga-se de passagem, não sofrem as consequências do futebol moderno como os grupos dos grandes clubes da primeira divisão mas sabem, tal como todos os outros, do que sofrem.

Houve grupos que ficaram de fora, apresentando motivos coerentes para tal o que não quer dizer que tenham razão. Toda a gente sabe que uma das fontes de receita dos grupos é a venda de material e são muitos os euros movimentados à conta deste procedimento. Isto é negócio, não é? Ok, mas o que fazem com esta receita já difere de grupo para grupo. E esta é uma velha discussão, mas basicamente e desde que isso não signifique banalizar a imagem do grupo, não vejo grande problema em ter receitas desde que sejam exclusivamente aplicadas para o grupo – tifos e deslocações. Nunca, mas nunca mesmo para proveito pessoal! Com isto quero dizer que não é o negócio em si que retira legitimidade em participar no protesto contra o futebol moderno, tendo em conta que este se baseia em interesses mercantilistas, mas sim o resultado desse negócio. E aqui, talvez o único grupo que não deve nada a ninguém nesse aspecto, é um dos do Benfica. Curiosamente é também aquele que se afasta mais destas lutas e se adapta melhor às desvirtudes do futebol indústria sem com isso perder a força que lhe caracteriza. Dá que pensar...

Depois, bem, depois estamos em Portugal. País de tradições e contradições. Onde se proclama o olha para o que te digo e não para o que faço. Em que se defende a teoria e na prática esquece-se tantas vezes do que foi dito. Por cá não há nem mais nem menos rivalidade do que aquela que existe noutros países onde existem grupos de apoio há bastantes anos, como Itália, França, Croácia, entre outros. A questão é que essas rivalidades não nos deixam lutar por algo que é do interesse de todos os que se englobam neste mundo. Ou muito me engano ou jamais veremos os grupos dos três grandes portugueses unidos na luta pelo mesmo ideal. Cada um com as suas razões mas, deixem-me ter o desplante, sem nenhuma legitimidade. Vão a todo o lado nos bons e maus momentos. Mas não vão a nenhum lado enquanto não perceberem que a questão não é só a da incoerência entre o que defendem e o que praticam - porque se fosse essa a razão principal, ninguém, uns mais do que outros, teria pernas para andar - mas sim a da rivalidade que, apesar de ser o sal do futebol, neste caso cega os interesses de todos nós. Ou alguém duvida que um vermelho, verde e azul juntos teriam muito mais força e credibilidade?

2006/01/02

"A vida é uma batalha que nunca ganhamos, por isso estamos sempre tentando."
Li isto, tal e qual a transcrição, algures num qualquer jornal. Não tomei atenção, nem tão pouco me recordo do autor mas foi, com toda a certeza, das coisas mais acertadas que já li. Há, nesta pequena frase, mesmo muita verdade. Talvez por isso, goste tanto de bola. Talvez por isso, eleve o meu Benfica a um patamar idílico e quase inalcançável. De uma paixão exacerbada, sem limites e orgulhosa. Porque aquele símbolo muitas vezes me fez sentir que, em noventa minutos, ganhei uma batalha. É, talvez por isso, que os mais fanáticos são tão incompreendidos e injustiçados. Por, em apenas noventa minutos, sentirem por todos os poros do corpo o que quase toda a gente não consegue sentir numa vida inteira.